Fui a Berlim e vi os Skinny Puppy


A capital alemã é de todas as cidades em que já estive, uma das que se mostrou mais surpreendente. A crueza de Berlim é fascinante e todos aqueles preconceitos que se ouve constantemente acerca dos alemães e da Alemanha são facilmente desmistificados, no imediato momento em que se começa a circular pelas ruas.

Ao caminhar por Berlim sente-se estar na presença de uma cidade a quem foi dada, infelizmente em termos humanos, mas felizmente em termos arquitectónicos, a possibilidade de renascer e, dessa forma, criar uma cidade de vanguarda e modernismo a nível europeu. Uma das características curiosas e, ao mesmo tempo, estranhas de Berlim é que ao contrário das grandes metrópoles, o movimento e frenesim nas ruas não é observável, surgindo em várias ocasiões a ideia que as pessoas, mas sobretudo os veículos, andarão, porventura, a utilizar as Autobahn, imortalizadas pelos Kraftwerk.

Andar pelas ruas de Berlim é uma experiência de consagração para todos aqueles que ouviram falar de tantos movimentos urbanos e também musicais que surgiram na cidade, que leram acerca de experiências maradas que artistas como David Bowie e Iggy Pop fizeram na cidade, ou quem viajou por Berlim através dos relatos de Christiane F. e tomou consciência dos clubes underground e viagens pela cidade através dos corredores do mundo das drogas. Para além disso, o fenómeno electrónico e industrial que se desenvolveu nesta cidade constituía para mim um enorme motivo de interesse e a possibilidade de andar por clubes estranhos acabaram por ser momentos memoráveis e mágicos.

Uma experiência inesquecível em Berlim, terá que ser uma visita ao Zapata. Imagine-se um prédio devoluto, do tempo da 2ª Guerra Mundial, abandonado, deixado a cargo de artistas que o habitam e no qual é possível andar de piso em piso, de Becks na mão, a contemplar todo aquele ambiente pós-apocalíptico. No meu entender, Berlim é isto, é ser abordado por cenários rudes e frios. Sendo desta forma que cresci a ouvir comentários acerca de Berlim, acabou por ser isso que a cidade me proporcionou.

A presença dos Skinny Puppy na cidade aprimorou ainda mais todo este sentimento cru. Porra, se há cidade onde o industrial tem que ser tocado é em Berlim. Estar presente num concerto dos canadianos, intitulados como uns dos criadores do estilo, foi uma experiência do camandro. Olhando para os cenários negros, obscuros e teatrais do concerto, não havia melhor cidade que Berlim para o industrial puro e duro daquela noite.

A quem já lá esteve, diga lá de sua justiça o que por lá sentiu…