2012: O ano do Vidente
O blog da Amplificasom é um espaço de partilha cultural sem qualquer tipo de barreiras. Serve literalmente para falar de tudo, tudo aquilo que nós e os convidados acreditamos que tem valor e desejemos partilhar às centenas de pessoas que nos visitam diariamente. Mas sim, é a música a nossa real paixão e foi ela a origem deste espaço que nasceu no antiguinho blogspot mesmo antes da promotora (embora sabendo que o bichinho já cá se encontrava). No entanto, não há nem nunca haverá uma agenda, e os discos que aqui partilharei nos próximos dias não passam dos meus favoritos sem qualquer ordem e sem limitar o meu ano musical, ano esse em que descobri e continuo a descobrir muita música de outras décadas.
Hoje digere-se tudo muito rapidamente, o que é notícia às nove da manhã já não é às sete da tarde e aquele disco que compramos ou sacamos ontem, ao fim de duas ou três audições, é como se tivesse sido editado há quatro anos. A vida é curta, diz-se, mas não é mais longa se andarmos num regime de consumo rápido. Talvez pareça, mas não é.
Aprendi, com o passar do tempo, a dar outro valor a um disco, outro valor ao silêncio. Por aqui, rodam várias semanas seguidas dando origem a uma relação mais intensa e satisfatória. Esquecendo então e desde já a ideia do típico top de final de ano, começo a partilha esperando que os descubram ou redescubram e, acima de tudo, que partilhem também comigo as vossas opiniões/ emoções e, claro, os vossos discos!
Swans – The Seer [Young God 2012]
O primeiro que me vem imediatamente à cabeça é absurdamente perfeito. Intenso, enlouquecedor, exaustivo, desgastante mas altamente recompensador, The Seer é uma obra de arte. Uma obra que no futuro todos a vão visitar num museu, uma obra que devia ter um curso na faculdade, uma obra que finalmente traz alguma paz a Michael Gira. Nesta batalha, pelo menos.
É preciso ter muita confiança e ser-se um grande egocêntrico para conseguir expandir o seu som desta forma e chegar-se até aqui. Respeito o passado da banda, aprecio bastante o My Father…, mas isto é outra coisa, outro universo. O próprio Gira disse que The Seer took 30 years to make. Pessoalmente, sinto com este disco uma espécie de culminar dos meus quase 30 anos. Daqui a três décadas, pegarei nos álbuns de fotos para recordar pessoas e lugares, mas é o triplo LP que colocarei a rodar para me relembrar dos sons destes tempos…
Aluk Todolo – Occult Rock [The Ajna Offensive 2012]
Audácia. s.f. Impulso de alma que leva a cometer ações extraordinárias, desprezando obstáculos e perigos; denodo, afoiteza, arrojo, ousadia, intrepidez, valor.
Tenho um grande respeito e admiração por bandas audazes, por bandas que evitam repetir-se, que não têm medo de sair da sua zona do conforto. Os franceses Aluk Todolo são um desses exemplos. Claro que não “vendem”, as bandas audazes não vendem (“quem esteve na Fábrica de Som há dois anos?”, perguntou o Eugene Robinson durante o concerto de Oxbow Duo no Amplifest relembrando que ele fez a primeira parte a solo enquanto umas quatro pessoas levantavam a mão), mas aquilo que oferecem é impagável.
Musicalmente, imagine-se um cruzamento exigente entre black metal e krautrock, mas altamente bem estruturado, construído e reproduzido daí que nunca se sinta que os oito temas andem à volta dos dez minutos. Mas, o retorno é tanto que… Há quem procure as drogas, o álcool, há quem procure o yoga e afins para chegar a um estado de relaxamento que ao mesmo tempo estimule a mente e o corpo. Nada contra as opções acabadas de referir, mas normalmente encontro-o em álbuns como este. Definimos um momento, colocamos os phones e ouvimos o disco do início ao fim. Sem medo de uma viagem cerebral através de uma nubelosa intrumental, sem medo de ultrapassar as fronteiras da conformidade. Sonhos a preto e branco. Um dos meus discos do ano!