À Conversa com o Capitão
Troquei umas palavras com o Tiago Szabo, uma das duas cabeças à frente da portuense Ahab Edições ( a outra é a Joana Pinto Coelho ),para saber quais são os planos para o futuro da editora.
– As traduções das obras lançadas pela Ahab Edições têm sido feitas da língua original para o português. Quão importante consideram as traduções serem feitas do original, não havendo o “meio-termo” (do inglês, por exemplo)?
Há um poeta americano, o Robert Frost, que diz que a poesia é aquilo que se perde na tradução. Entre outras especificidades, interpretar faz parte do código genético de traduzir literatura, de modo que uma tradução feita de uma língua que não a original será sempre a interpretação da interpretação, ou seja, um autor potencialmente massacrado. Sempre que possível, preferimos evitar.
-Tencionam continuar apenas como editora de livros traduzidos ou pretendem publicar também literatura portuguesa?
Temos essa ambição. Quando é que isso vai acontecer, se é que vai acontecer, não o sabemos. O problema é que os autores portugueses que admiramos já estão publicados por outras editoras. Por outro lado, é muito difícil encontrar originais realmente interessantes. E já nem digo que tenham de ombrear, por exemplo, com um William Gaddis, porque então estaríamos a pôr a fasquia num nível estratosférico.
-Acreditam que havia uma lacuna no mercado português no que respeita a literatura traduzida?
Bom, a verdade é que os nossos livros, com excepção da Miss Brodie, ainda não tinham sido editados por cá. Se continuam a ser lidos um pouco por todo o lado e a passar de geração em geração, é sinal de que deve haver alguma coisa neles. Por isso é que são clássicos, têm uma vocação de permanência. Ainda que se traduza bastante em Portugal, creio que há caminhos muito interessantes por explorar. De outro modo seria absurdo embarcar nesta aventura. Editar sem gerar valor acrescentado é uma coisa que não nos interessa.
-Os primeiros livros que publicaram foram de escritores consagrados como Solstad e John Fante. Além da qualidade, quais são os critérios na escolha das obras a publicar?
O catálogo é a Mona Lisa do editor, aquilo que ele tem de mais valioso. Pelo que a qualidade literária dos textos que publicamos é o principal critério. E aqui infiltram-se, naturalmente, os nossos gostos e intuições. Têm de se tratar de livros que nos fizeram vibrar e que, de alguma maneira, se harmonizem uns com os outros. Depois, têm de ser livros necessários, que cumpram com as expectativas do leitor. E, por fim, convém que tenham uma saída minimamente comercial. Publicar sem fins lucrativos está muito bem para as universidades e para as fundações.
-Quantas pessoas fazem parte da editora?
Sem contar com os nossos prezados colaboradores – tradutores, revisores, designer e assim – a Ahab é uma criatura bicéfala.
-Quais são os objectivos da Ahab para o futuro; quais os planos a curto e longo prazo?
Manter o leme firme e continuar a navegar pelos mares da edição, descobrindo lugares encantadores pelo caminho e fidelizando novos passageiros.