A Gata do Doom: Chris Marker e os Isis
Chat écoutant la musique (1990), versão do doom com o Panopticon na banda sonora.
In another time I guess I would have been content with filming girls and cats. But you don’t choose your time. – Chris Marker
Não percebo nada de cinema. Um pouco como na música, vou seguindo conselhos, há alturas em que me foco num período temporal, num cineasta, num género, mas a maior parte das vezes é quase por acaso que acabo a ver um filme; levada pela curiosidade ao descobrir uma citação, uma fotografia, ao ouvir um álbum ou música inspirados nele. A forma como conheci Chris Marker (realizador, fotógrafo, escritor, artista multimédia – e adorador de gatos!) foi ainda menos tradicional(?): Em 2008 vi Isis no ATP Nightmare Before Christmas e uma das t-shirts que tinham no merchandise era esta:
A imagem era apelativa e intrigante, não fazia ideia o que representava. Passado algum tempo, ao passear pela loja da Hydra Head, acabei por voltar a ela e desta vez tinha um nome para procurar: La Jetée (1962). Cheguei num instante ao filme de Chris Marker e até hoje considero que é das melhores curtas-metragens que já vi. À excepção de uns breves (mas memoráveis) segundos, todo o filme é composto por fotografias – Marker chamou-lhe mesmo uma fotonovela. Passa-se num mundo pós-terceira guerra mundial em que a superfície está contaminada pela radiação, e os poucos sobreviventes – a viver no subsolo – usam prisioneiros de guerra para efectuar experiências de viagens ao passado e futuro, na esperança de que consigam obter mantimentos e uma salvação para a população do presente. Fiquei tão impressionada com o método, com a beleza da fotografia a preto e branco, que da primeira vez que vi dei por mim a esquecer-me várias vezes de ler as legendas (o que é mau quando não se entende a maior parte do francês falado).
Voltando a Isis, além das t-shirts (há uma segunda), as imagens do artwork do EP Mosquito Control também pertencem ao filme e o vídeo da In Fiction – da autoria de Josh Graham – é inspirado no La Jétee, através da utilização de stills:
Infelizmente, depois do La Jetée acabei por não ver mais nenhum filme dele, e foi preciso um acontecimento tão triste como a sua morte para me lembrar disso. Para quem estiver em Lisboa, nos dias 6, 7 e 8 de Agosto o Espaço Nimas vai recordar parte da sua obra.