A Gata do Doom: So perfectly, epochs collected here.

Interrompi-lhe a sesta e só consegui esta fotografia ranhosa e um arranhão.

Listening for hours to all the different animals at the same time, with their different patterns and rhythms; sometimes following a structure, sometimes random, was really inspiring. This was something we exercised when making the music for the opera. – Olof Dreijer

Não é doom, mas tem passarinhos muito apreciados pela gata e a colaboração entre os The Knife, Matt Sims e Planningtorock é o álbum que mais ouvi desde o início do ano (que foi quando lhe voltei a dar uma oportunidade, depois de ter ouvido com muito pouca atenção em 2010), daí ter direito a honras de abertura.

Este álbum duplo é o resultado de um trabalho comissionado por um grupo dinamarquês, que pediu aos The Knife que compusessem a música e o libretto para a (electro-)ópera que estavam a produzir sobre Charles Darwin e o seu trabalho, em comemoração do 150º aniversário do On the Origin of Species. O que se seguiu foi um processo demorado que incluiu leitura de obras e cadernos de e sobre Darwin, visitas a museus de História Natural, viagens à Amazónia para field-recordings e uma aprendizagem sobre a essência da ópera, uma habituação aos seus principais elementos: o próprio Olof diz ter levado cerca de um ano a emocionar-se com uma voz lírica.

Com a teoria da evolução como um dos focos de maior inspiração, não é de estranhar que ao longo dos 90 minutos se vá assistindo a uma constante evolução (ou variação, como Darwin lhe chamava): o álbum começa cauteloso, minimalista e aos poucos vão sendo adicionados cada vez mais elementos, as músicas vão ficando mais humanas. Músicas como a Geology, em que o movimento da lava é representado através da música, ou a Variation of Birds, em que sintetizadores emulam o som do chilrear de um pássaro e a voz é que é usada para retratar o voo, são dos pontos mais altos. O primeiro álbum acaba por ser, para mim, o mais cativante (durante os primeiros quase 45 minutos há muito pouca humanidade – nesta fase a voz lírica aparece sempre associada à austeridade e frieza da Natureza), não devido à sua aparente maior estranheza, mas precisamente devido à forma como evoca musicalmente uma Terra pré-histórica de maneira tão explícita… até parece simples. Esta situação altera-se com o início do segundo disco, em que a primeira faixa é sobre uma das filha de Darwin, Annie, cuja morte aos 10 anos teve um profundo impacto nele (ouve-se no início “We have lost the joy of the household, and the solace of our old age. She must have known how we loved her, oh that she could now know how deeply, how tenderly we do still and shall ever love her dear joyous face.“); é também a primeira vez que se ouve o sempre belíssimo e comovedor violoncelo da Hildur Guðnadóttir, que volta a surgir pouco depois na Colouring the Pigeons (uma música imensa, que junta praticamente todos os intervenientes do álbum e me faz repensar o que escrevi acima sobre preferir o primeiro disco). Nas faixas seguintes surge percurssão, a voz da Karin, e até nos voltamos a lembrar que os The Knife estão por detrás do álbum (Seeds, The Height of Summer). A quem lhe dedicar a devida atenção, Tomorrow, In a Year oferece uma viagem pela História da Terra, e é por isso melhor apreciado quando ouvido na íntegra.

Para quem esteja interessado, o vídeo abaixo – onde os membros da colaboração fazem perguntas entre si – é muito interessante e elucidativo: