Amplifest 2014: o André esteve à conversa com a Lusa
Desde o início, em 2011, o Amplifest tem sido uma aventura ímpar. Durante três edições, tivemos a alegria de partilhar muitos momentos inesquecíveis: um dos primeiros concertos de Godflesh desde a reunião da banda; o há muito esperado regresso a Portugal dos Godspeed You! Black Emperor; a estreia no nosso país de bandas em crescente afirmação como Amenra, Bohren & Der Club of Gore, Deafheaven, Ufomammut, Chelsea Wolfe e tantos outros (lista injusta de se fazer, confesso); as exposições no mainfloor do Hard Club; as Amplitalks tão genuínas; a partilha de momentos entre público e músicos, sem barreiras de qualquer espécie, fazendo estes questão de estar com os fãs e assistir a outros concertos… É essa a essência do evento e mesmo assim estes são apenas alguns exemplos – acreditamos que cada um que lá esteve trouxe consigo as suas memórias e acreditamos ainda mais que quem nunca esteve juntar-se-à a nós neste ano. Será a edição mais ambiciosa até à data: um cartaz exigente, arrojado e ecléctico como nunca, um evento de e para melómanos. O primeiro fim-de-semana de Outubro vai-nos deixar marcas a todos. Sabes, não é por acaso que no próprio artwork do festival temos um coração no centro: mais do que nunca, esta é uma edição que fazemos com o peito, é uma edição que nos sai completamente de dentro.
Em relação ao alinhamento, a nossa ambição é evidente: juntar os históricos e influentes como os Swans e Cult of Luna a uma lenda viva como Peter Brötzmann, trazer nomes incontornáveis como os Wovenhand, outros que têm contribuído para alargar as fronteiras dos géneros musicais como o génio Ben Frost, os Yob, Urfaust, Wolvserpent e Pharmakon, e outros que revelaram estar entre as vanguardas dos sons que praticam, como é o caso de Marissa Nadler, Pallbearer, Hexis, Black Shape of Nexus, Conan e Alhousseini Anivola.
Para além disso, vamos apostar num Amplifest a três palcos, com algo que não se pode resumir a música: filmes, exposições, conversas e debates com os artistas envolvidos, um mainfloor do Hard Club cheio de discos e um ambiente íntimo, de partilha entre os artistas e todos os que se decidirem a partilhar desta experiência connosco. Acho justo dizer que não é uma ambição que queremos guardar para nós. Partilhar algo tão especial tem sido sempre o que nos guiou e continua a ser tónica neste quarta edição do Amplifest.
Que diferenças encontram entre o que foi organizar o primeiro e a edição de 2014?
É importante falhar, aprender todos os dias, só assim evoluímos. Edição após edição, temos crescido imenso e acredito sinceramente que temos um evento único, distinto e bem especial neste canto da Europa. Continuamos a mover-nos pela paixão e a nossa própria necessidade de superação está sempre presente e a servir de mote, mas somos hoje uma organização com outra maturidade, consequência natural de quem reconhece os seus erros, se dedica imenso e está sempre disposta a aprender com tudo e com todos.
Ainda que tenhamos uma tendência para nos concentrar nas críticas negativas ( mas construtivas, claro), nunca me vou esquecer de duas frases da tua crítica ao primeiro Amplifest: a primeira era algo como “terminado o Amplifest podemos dizer sem hesitações que é um exemplo a nível nacional, para tudo quanto for produtora, em termos de organização.”; e a crítica rematava com um “Não é o melhor festival de sempre, mas talvez seja a melhor primeira edição de sempre de um festival”. Para uma primeira edição, vindo de alguém que está presente nos festivais europeus mais conceituados, foi mesmo importante este reconhecimento.
Em termos de parcerias o festival continua igual?
Lamentamos que o Departamento da Cultura do Porto e o respectivo Vereador ignore os nossos contactos, lamentamos mesmo. Após oito anos como promotora a oferecer tanto à nossa cidade, a trazer pessoas de todo o país e de toda a Europa, pessoas essas que nos confessam que vêm motivadas pelos nossos eventos visitando assim o Porto pela primeira vez, não pedíamos mais do que um “obrigado”. Nunca iríamos pedir para assumirem as nossas responsabilidades, nunca iríamos pedir dinheiro, fazemos isto porque a tal paixão continua a mover-nos e porque a energia do público com quem nos cruzamos nos contagia. Ainda assim, não tivemos qualquer oportunidade de explicar à autarquia como queríamos colaborar porque, lá está, não obtivemos qualquer resposta aos vários contactos efectuados. É triste, mas longe de nós querer fazer disto qualquer tipo de bandeira, toco no assunto apenas porque perguntas e acredito que é importante que as pessoas saibam que não temos qualquer apoio. Mais importante ainda é continuarmos focados no nosso caminho e, edição após edição, fazer melhor do que a anterior. A cada ano que passa, as pessoas dizem-nos que é o melhor cartaz de sempre e é esse o melhor apoio que podes ter:
Fazem ideia da proporção de estrangeiros que vão ao Amplifest?
A Amplificasom pode ser muito coração e muito DYI, mas somos muito dedicados e profissionais. Damos muita atenção aos números, parte do sucesso da nossa sustentabilidade advém daí. Desde que implementamos a Amplistore, em 2012, que sabemos exactamente de onde vêm as pessoas, que eventos repetem, que eventos mais vendem logo que estilos musicais mais procuram… Aliando essa informação ao nosso tipo de programação que, como sabes, é ecléctica mas também coerente e desafiante, então temos um Agente Cultural (porque acreditamos mesmo que não somos apenas uma promotora – também editamos, agenciamos, produzimos, fazemos curadoria e até quem nos diga que também educamos) sustentável e independente. No Amplifest 2013 tivemos cerca de 30% de estrangeiros, da vizinha Espanha até à Rússia passando pela França, Itália, Alemanha, Inglaterra, Suiça, Finlândia e Suécia. Sentes que estás a fazer um bom trabalho quando motivas não só aquele miúdo que poupou durante meses para poder viver este fim-de-semana connosco como alguém vem de tão longe como São Petersburgo e que gastou um dinheirão em transportes, alojamento e refeições (lá está, na nossa cidade) para aqui estar.
Em algum momento pensam que vão ter de passar a usar um espaço maior do que o Hard Club?
A primeira edição teve lugar apenas no Hard Club, na segunda passamos pelo Passos Manuel e pela Sé, no ano passado o Mercedes, este ano vamos ter concertos no Gare… Temos uma série de ideias e espaços para fazer crescer o Amplifest de forma saudável, mas a acontecer no Porto – sempre quisemos que o Amplifest fosse completamente flexível portanto quem sabe um dia não experimentamos outra cidade – o Hard Club será sempre o coração do evento.
Ainda longe do próximo ano, mas o Amplifest vai continuar?
O público decide, literalmente. Analisando o mais friamente possível, temos um evento que tem de ser vendido exactamente naqueles dias e se o resultado não for positivo não há como transportar o stock de volta ao armazém. Só temos uma hipótese e temos de dar o melhor de nós para que esta seja mais uma prova superada, tudo fazer para que seja um sucesso, mas não tendo o Amplifest qualquer income extra bilheteira e sendo a nossa pequena equipa composta por elementos com empregos humildes, não temos como continuar em caso de insucesso. Adoramos isto, muito mesmo, e acredito do fundo do coração que somos um dos poucos exemplos em toda a Europa que se dedica a organizar um evento desta envergadura e exposição sem qualquer ajuda ou apoio, mas para continuar precisamos de todos. Fica o convite a quem lê estas linhas para, nos dias 4 e 5 de Outubro, viverem o Amplifest 2014 connosco. E não, não é um festival, é mesmo uma experiência.