Há quem se orgulhe de ter entrado no mundo do rock através dos discos antigos dos pais, mas não posso dizer que tenha tido essa sorte. Antes dos 8 anos, lembro-me de ter ouvido bastante música portuguesa (principalmente Madredeus e Zeca Afonso) e, ocasionalmente, música clássica. Dos 8 aos 13 acho que não tive grande interesse por música, e depois fui apenas mais um dos vários milhões de jovens rendidos à MTV. Falar das minhas bandas favoritas nessa altura seria demasiado embaraçoso, mas percebem a ideia.
Entretanto deparei-me com o maravilhoso mundo da internet de banda larga, e o consumo de música foi aumentando a cada dia. Os fóruns serviam como meio de partilha de bandas, e tive a sorte de formar bons amigos com um gosto musical mais refinado do que o meu, com quem fui aos primeiros concertos da minha vida (de tantas boleias que me ofereceram, é melhor não pensar em quanto lhes devo de gasolina).
Ainda tinha 18 anos quando fui ver Secret Chiefs 3 no Passos Manuel, mais uma vez por recomendação. Do que me lembro, ainda não conhecia mais do que um ou dois álbuns, e fiquei completamente obcecado com a banda durante uns bons meses. Além disso, tive receio de perder outra experiência semelhante, e passei a seguir com frequência o antigo blog da Amplificasom. Foi aí que deixou de ser uma promotora e passou a ser um espaço cultural. Se antes era apenas mais um site a consultar para descobrir concertos no Porto, comecei a prestar cada vez mais atenção aos textos sobre tudo e mais alguma coisa, desde cinema a política, passando por fotografia, literatura e… música. Muita, muita música.
Acredito convictamente no poder da arte como instrumento de formação do indivíduo. Um espectáculo não cria apenas um bem-estar temporário: pode alterar o nosso humor durante horas, dias ou semanas, tornar-nos mais receptivos a novas experiências, mais atentos ao mundo à nossa volta, e mais empáticos para com todos aqueles que nos rodeiam. O facto de simples combinações de sons terem o poder de nos levar às lágrimas é algo de tão misterioso como fantástico, e um concerto intimista pode ser a única ocasião em que não nos importamos de mostrar todas as nossas emoções a dezenas ou centenas de desconhecidos – sabemos que todos eles compreendem a nossa reacção.
O primeiro Amplifest foi grande o suficiente para dar à Amplificasom o reconhecimento mais do que merecido por estes anos de trabalho, e pequeno o suficiente para apreciarmos a um nível bastante pessoal esta experiência partilhada. Este ano, começando um dia após o meu próprio aniversário, só posso esperar que o Amplifest seja novamente uma espécie de festa de anos antecipada da Amplificasom, com o mesmo ambiente que permeou a primeira edição, e com um sentimento de comunidade cada vez mais reforçado. Um aniversário é sempre melhor quando estamos rodeados de amigos.