Amplificasom 2006-2012 por Jorge Silva

Jorge Silva

Conheci o “velho” blogue da Amplificasom algures durante o ano de 2007. Por essa altura, tinha criado também o meu primeiro blogue e andava ainda naquela curiosidade do “deixa ver que mais blogues é que há por aí e o que é que o pessoal mete neles”. Entre pessoal a falar da sua vida privada à-doida e outras cenas que tais (e ainda falamos agora do Facebook!!!), deparei-me com um blogue de música que passei a seguir regularmente.
Os autores do blogue em questão andavam a organizar uns concertos com nomes que, naquele momento, ainda não me diziam grande coisa. Sim, conhecia Pelican e Capricorns da Terrorizer mas ainda não “puxavam” particularmente. Não deixava no entanto de achar interessante o facto de alguém se andar a mexer para trazer cá grupos mais underground e fora da linha habitual dentro das sonoridades mais pesadas. Passou o primeiro concerto que eles organizaram na Fábrica de Som e eu ainda não me tinha decidido a dar uma espreitadela à coisa. Até que, por essa altura, eu tinha deitado “a mão” a um álbum chamado “Let the Churches Burn” de uns gajos suecos chamados Suma.

“Pois!… OK!… Grupo mínimo apesar do álbum estar bem fixe!… Estes gajos nunca vão passar por cá!… É o costume!…”

Até que, grande surpresa minha, a tal malta do blogue anuncia um concerto de Suma! Ainda estavam à procura de local, mas a data estava próxima. Epá!!! Este não posso perder! Quando anunciaram o local, qualquer dúvida que poderia ter acerca de ir ao concerto ou não desvaneceu-se – ainda por cima era perto de casa!
Fim de tarde do dia 15 de Novembro (ok, era Novembro, portanto já era noite) lá fui eu até à Casa-Viva.
Apanhei uma seca desgraçada encostado a uma parede enquanto via pessoal a andar para cá e para lá sem que o concerto parecesse dar sinais de começar (“mas não dizia 19h30 no cartaz?!!!”).

Sendo um gajo que tinha (tenho) a mania de andar sempre de máquina fotográfica, tinha decidido aproveitar também aquela ocasião para, pela primeira vez, fotografar um grupo a tocar. Ao princípio estava um bocado naquela “será que estes gajos levam a mal se eu tirar umas fotos?” mas o facto de que, assim que eu peguei na máquina, o vocalista dos Suma se ter afastado para eu poder fotografar os Chang Ffos, que tinham entretanto começado a tocar, e me ter feito um gesto e uma expressão que queriam dizer “estás à vontade”, fizeram maravilhas. Claro está que a minha máquina na altura não era nada própria para fotografar em ambientes assim tão iluminados (http://www.youtube.com/watch?v=ROH3U1AKkms ) e as fotografias nunca viram a luz do dia (até que me decidi a resgatar umas para ilustrar este texto), mas adorei a experiência e o concerto, claro está! Comprei o tal cd aos gajos (e eles deram-me um autocolante) e saí de lá com o estômago às voltas com a “biolência” do som (estava ver que ia “virar o barco” cá fora!!!). No dia a seguir deixei um comentário no blogue, ao que um tal de André respondeu terminando com um:

“Para a próxima apresenta-te à malta e vai espreitando o blog.”

Bem, o concerto a que eu fui a seguir foi o de Orthodox. Estava eu cá fora à espera, a porta da Fábrica de Som abre-se e sai de lá de dentro um gajo para vir fumar um cigarro. Vê-me ali, pergunta-me se eu vim para o concerto e explica-me que a coisa está um bocadinho atrasada (“Boa! Lá vou eu outra vez apanhar seca!!!). Conversamos um bocado sobre música e, quando ele se vira para voltar para dentro, ouço chamarem-lhe André (“olha, já o conheci!”).

Desde aí, foram tantas experiências bestiais! Zatokrev às tantas da madrugada num concerto brutalíssimo, La Ira de Dios a tocarem para 16 pessoas e, no fim da actuação a agradecerem e a desligarem os amplificadores e nós a dizermos “ei! isso ainda não acabou. toquem mais que nós não vos deixamos sair daqui” ao que eles, um pouco estupefactos, anuíram, voltaram a ligar tudo e continuaram a tocar. Icos, onde pela primeira vez fotografei com a máquina que uso agora; os Secret Chiefs 3 num Plano B a abarrotar; os These Arms Are Snakes com o vocalista a começar o concerto agarrado ao tecto do Porto-Rio; Monarch em mais uma noite de público reduzido mas memorável; Wolves In The Throne Room, Isis e tantos tantos mais! Até hoje, são poucos os concertos que eu “saltei” organizados por esta promotora. Nesse tempo vi grupos que não acreditaria que iria ver, passei a reconhecer rostos habituais no público e adoro ver a diversidade dos elementos desta “congregação”. Além de achar interessantíssimo observar como algo assim vai atraindo uma série de “satélites” à volta – é o pessoal que fotografa, a malta que faz cartazes, aqueles que escrevem em blogues e afins sobre o que vai acontecendo e, acima de tudo, o público, que somos todos nós, e faz com que este projecto se mantenha e cresça.


Tudo isto é algo que eu, com estes agora 39 anos (porra! lá está o gajo a jogar a cartada da idade!!!), posso dizer que não se vê a surgir todos os dias e com esta dedicação. É também algo que eu, já há muito, achei que era importante documentar porque aquilo que todos nós, pessoas que acompanhamos este projecto, temos estado a fazer é História; uma História que mudou definitivamente, e para melhor, o panorama musical desta cidade.

Jorge Silva