Amplificasom 2006-2012 por Pedro Nunes
Quando olho hoje para a Amplificasom, vejo o quanto evoluiu/cresceu e aproveito esta oportunidade para recordar também os primeiros anos desta aventura.
No início um espaço (o primeiro blog) onde as personagens ::André::, Crestfall, Melancolia e outros (a mim convidaram-me para colaborador no dia 30 de Novembro de 2006, na altura escrevia para algumas publicações). Todos eles escreviam sobre a música que gostavam, partilhavam-se descobertas e a participação dos leitores era muita. A minha coluna dos Heróis e o Método acabou por abraçar um formato similar às “Rapidinhas”, onde o André escrevia sobre os discos que ouvia.
Na altura partilhava-se a devoção de bandas que não se imaginava virem um dia surgir num cartaz com o selo Amplificasom, mas certamente já haveria coragem para lá chegar (Boris, Om, Shellac, Mono – chegamos a ir numa mini-comitiva a Londres para os ver) – Isis, Earth, Nadja, Pelican e muitos outros). A Amp trouxe-os a todos a Portugal, contra todas as marés!
Acompanhei de perto a preparação de alguns concertos, via-se como as bandas eram recebidas e tratadas, sentia-se que o trabalho era feito com profissionalismo, mas também com uma enorme excitação/admiração à mistura.
Estive no primeiro concerto, os Enablers, entrevistei os músicos (vejam a forma tosca e completamente DIY do primeiro cartaz)… Quando o vocalista invadiu o balcão do Mercedes a debitar as suas histórias de muitas vidas, sentiu-se um arrepio colectivo, uma sensação de conquista, porque o primeiro concerto da Amplificasom acontecia e caminhava para se esgueirar nas nossas boas memórias.
Naquela altura a promotora ainda estava a dar os primeiros passos, mas os tempos eram bons, foi-se vendo muitos concertos organizados por outros agentes do Porto e arredores – creio que era rara a semana que não se via pelo menos um concerto. Penso que essa dinâmica também foi puxando pelo pessoal: “temos que trazer cá os nossos.” A Amplificasom foi também espaço de amizades, algumas ficaram e resistem como rochedos (André, Amebix, Jorge entre outros).
Muitos concertos marcaram-me, pela música, mas também porque acompanhava a sua preparação, escrevia press-releases e o que fosse preciso, até desenrasquei um dos cartazes.
Como não quero deixar de mencionar alguns nomes: Marcou-me o concerto do James Blackshaw, porque por detrás da sua timidez erguem-se dedos capazes de tocar de forma exímia as cordas da guitarra (vida). Os Boris dentro do barco foi surreal. Lembro-me de ver o pessoal a descarregar uma quantidade de material considerável que aos meus olhos parecia o suficiente para afundar o Porto-Rio. Gostei muito do concerto dos Lair of the Minotaur, não esperava tamanho aço a sair das colunas. Antes os Capricorns tinham balanceado o seu Sludge como poucos.
Foram também importantes os concertos que levaram a Amp a algumas deslocações, por exemplo o Tetuzi Akiyama em Barcelos.
Os Orthodox e quase todos os concertos que vi na Fábrica do Som (entre outras salas mais pequenas), mantiveram intacta a luta da Amp pelo chamado “underground”, uma dedicação que ainda não morreu e não me parece que isso venha acontecer.
These Arms Are Snakes obrigou-me lembrar os movimentos da cartilha rock n’ roll. Suma e Chang Ffos foi excelente, cada uma das bandas brotou o melhor do Sludge. Na abertura dos La Ira de Dios, foi com prazer que vi e fumei a música dos amigos Josué “O Salvador”… A Amplificasom já mostrava uma das suas vontades que era dar a mão a vários projectos de qualidade feitos em Portugal. Os Lost Gorbachevs, antes dos Ephel Duath, encontraram variações “impossíveis” e desafiaram todos os que estavam presentes a esquecerem interpretações e a deixarem-se ir. Os Monarch! ao vivo, a mostrarem que os concertos querem-se como experiências que mexam connosco. Claro que também se arriscou, como ver o Miguel Prado a explorar a sua guitarra, enquanto os presentes bebiam um copo no Maus Hábitos.
É impossível não sorrir ao ver que a vontade em arriscar da Amplificasom mantém-se intocável e ainda hoje, apesar da cautela que a crise obriga, resiste a paixão pela música.
Sempre me identifiquei com a Amplificasom por ter vivido a sua história, por ter visto e ouvido muita música boa.
Hoje ao escrever este texto – enquanto já passaram vários anos desde o início, já mudei de casa duas vezes, já abracei projectos profissionais diferentes, mas ainda tenho uma enorme vontade em acompanhar o trabalho do André e de todos os que se mostram dispostos a ajudar, porque uma promotora com estas características (sem certos tipos de apoios) precisa de quem a ajude a remar sempre.
Neste aniversário, envio um abraço a todos os que ajudaram e estiveram presentes em qualquer dos concertos (afinal os heróis não vivem sem aqueles que acreditam neles). Dedico estas palavras ao André e agradeço a inspiração e a amizade.