Amplitude 11.02

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Earth – Primitive and Deadly [Southern Lord 2014]

Uso este espaço para espalhar a palavra sobre o meu disco preferido do ano passado. Todos nós o ouvimos, mas se alguém, após estas linhas que nunca serão suficientes, descobrir a banda da lenda Dylan Carlson então a minha missão terá sido cumprida.

Primitive and Deadly é o décimo disco desta instituição. Não é uma banda, é definitivamente muito mais do que isso. Passaram-se 21 anos de Earth 2: Special Low Frequency Version, o primeiro (editado via Sub Pop!) que qualquer melómano tem a obrigação de conhecer. Paisagens massivas, audições gratificantes. Permanecerá, para sempre, como o momento da mudança do metal como género e inspira, ainda hoje, dezenas de bandas/ seguidores.

Definiram um género, mas nunca deixaram de se reinventar. Em 2005 (quem de nós os conhecia até então?), depois de alguns anos em que Dylan bateu no fundo, a banda edita o surpreendente e belíssimo Hex: Or Printing In The Infernal Method. É talvez a primeira vez que tenho a noção de que um disco também é espaço, silêncio, que deve respirar.
É uma época brutal para a música de que tanto gostamos: os Isis acabam de editar o Panopticon, os próprios fãs de Earth chamados Sunn O))) editam o Black One, os Neurosis também tinham editado o The Eye of Every Storm há pouco tempo, os Cult of Luna estavam entre o Salvation e o Somewhere Along The Highway, o Justin editava o homónimo Jesu depois do fim dos Godflesh, os Mono editavam Walking Cloud And Deep Red Sky Flag Fluttered And The Sun Shined e tocavam para 50 pessoas, os Pelican metiam o segundo disco cá fora, um tal de Al Cisneros tinha uma banda nova… Não faltam exemplos e não estou saudosista, de todo, mas quis o universo que essa fosse uma época marcante.

A vida continua, no entanto, e vivê-la de forma criativa implica compromisso artístico e não olhar demasiado para o que se fez. Algumas destas bandas acabaram, outras tornaram-se insignificantes no presente e os Earth (não só mas porque é sobre eles que escrevo) reinventam-se a cada disco. Para o bem de todos nós.

Não sei o segredo do Dylan, onde vai buscar todos aqueles riffs majestosos. Não tiro o mérito à Adrienne na bateria (a cara metade do mestre), é pacientemente única, e os convidados (Mark Lanegan e Rabia Shabeen Qazi) que dão voz a algumas malhas estão perfeitos. Mas, as guitarras são majestosas. O Dylan é daqueles guitarristas que sempre achei que tem o poder de abalar a terra mantendo ao mesmo tempo uma beleza subtil que só se encontra na escuridão. Se a soubermos apreciar.

Verdadeiro ao título, é um disco melodicamente rico, hipnótico e envolvente. Um dos meus preferidos dos Earth, daqui a cinco anos um dos meus preferidos de sempre. Espero que também se percam.

Até para a semana*
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