Amplitude 4.02
Arca – Xen [Mute 2014]
Com apenas 24 anos, Alejandro Ghersi está em grande ao fazer parte de discos de malta como Björk, Kanye West e FKA twigs. Xen mexeu comigo e mexerá com todos os que gostam de música electrónica experimental (e não só) desafiadores de barreiras. É um disco para se ir descobrindo, que soa diferente a cada audição e lamento apenas alguma falta de dinâmica e consistência quando ouvido do início ao fim – é como se, em determinados momentos, desejasse que o caminho tivesse sido outro embora seja a sua linguagem idiossincrática que me tenha atraído inicialmente. Estou, de facto, a descobri-lo a cada play, mas uma coisa ninguém lhe tira: carrega uma confiança digna dos génios, sabe o que quer e sente-se que visualiza o seu som como algo pré-destinado, como se soubesse exactamente o seu caminho. Esse caminho vai deixar marcas, não só na sua carreira como músico, mas em toda a música digital (se é que já não deixou). Nome a ter debaixo de olho, as expectativas estão muito altas para os futuros trabalhos.
Circle (Ex-Falcon) – Leviatan [Ektro Records 2014]
Sim, são os Circle. Lembram-se de 2009? Adoramos ou odiamos, não há meio termo com os Circle, não há mesmo. 2014 foi um ano em que nos confundiram bastante onde editaram n de discos, trocaram e emprestaram (mesmo!) de nome… Estamos perante um colectivo muito peculiar, talvez seja por isso que sou fã. E pela música, claro.
No ano passado, quando as saudades bateram, espreitei o sete polegadas Kumiluoti (punk em dois minutos) e de seguida cheguei ao Leviathan. É uma viagem quase que espiritualmente anarquista entre guitarras acústicas, idas ao espaço e vozes ameaçadoras. Nada de memorável, diga-se a verdade. Ou talvez sim. Depende do estado de espírito, mas há aqui algo que me faz ouvi-lo com regularidade e não vos sei dizer o que é – apenas que gosto deles, é-vos suficiente?
Assim que terminarem de ler estas curtas linhas já os finlandeses editaram mais meia dúzia de discos. E surpreendem? Descubram-nos. Sempre.
Evian Christ – Waterfall [Tri Angle 2014]
Tal como o Alejandro, Evian Christ tem 24 anos e também foi convidado por Kanye West para fazer parte do Yeezus – não é fácil quando tens dinheiro para convidar os melhores do mundo para o teu disco? Que legitimidade te dá como autor?. A carreira de professor primário ficou on hold e Waterfall é o primeiro lançamento desde então. Para nunca mais voltar à escola, promete para já. Não que o EP seja perfeito, não é. As quatro malhas são muito parecidas, tanto no som como na claustrofobia e violência (sonora), como se ele próprio se se estivesse a limitar (propositadamente?) como beat-maker e nós, ouvindo o que está para trás, torcendo o nariz pois sabemos que nos conseguia surpreender – quando “brincou” com um sample de Grouper no Kings and Them, por exemplo.
No fim, creio que nos mata a todos. Ou a ele próprio? Será uma indirecta? Estou mesmo mesmo curioso para ouvir um novo trabalho.
Ps: Gostava de ver o debut de RA na Tri Angle.
Hildur Guðnadóttir – Saman [Touch 2014]
Já fui um consumidor ávido da Touch. Excelente música, excelente artwork, uma editora que também é uma escola para qualquer fã de música electrónica minimalista e experimental. Mas, desde o Location Momentum do Eleh (2010) que nenhum disco me dizia tanto.
O nome não engana (para muitos é até familiar pois colaborou com Hauschka, Pan Sonic, Throbbing Gristle e múm), Hildur Guðnadóttir é islandesa e só alguém de um lugar tão etéreo podia fazer música tão delicada. Diz-me o tradutor que a palavra Saman significa “juntos”, creio que se dirige ao violencelo e à (sua) voz. O disco vive dessa união, dessas conversas entre instrumentos. Não são tristes nem felizes, mas saio, de facto, melancólico após cada audição. O violoncelo é um instrumento que por si só me conquista à partida, mas o toque de Hildur é macio, fá-lo gemer e suspirar como se tivesse vida própria, como se o fizesse comunhar com a sua (dela) alma.
O disco não precisa de atenção para que o deixemos crescer, ele chama por nós e conquista-nos. Achei isto inexplicável mas poderoso. Ouçam-no. Agradecem-me mais tarde.
Todas as quartas mas sem agenda, discos destes e outros tempos. Até para a semana*