Analog Africa
Há editoras que são algo mais do que um logotipo e licenças de publicação.À imagem da Strut ou da Soundway, os albums que nascem através das atribuladas viagens do alemão de origem tunisina Samy Ben Redjeb por paises da África Ocidental como o Togo, a Nigéria, o Gana ou o seu país de eleição o Benin, são fruto de escavações minuciosas em lojas de discos, editoras falidas e arquivos de estudios esquecidos há duas décadas em townships pelo continente inteiro.Mas acima de tudo, as luxuosas edições da Analog Africa, são fruto de um amor melómano incomparavél.
“I’m on the back of a motorbike in the middle of Cotonou,Benin’s largest city,zigzagging between Zemidjians, bush taxis and many other kinds of transport “tools”.The driver is none other than Melome Clement, founder of the legendary Otchestre Poly-Rhythmo de Cotonou.From time o time he yells at the top of his loungs that he wished he had a car so I could be more comfortable. Little did he know I was having the time of my life.” escreve Samy nas liner notes de “African Scream Contest”.
“African Scream Contest”,uma compilação de pérolas do Benin e do Togo descobertas durante o ano de 2006 e gravadas durante a década de 70, será talvez o melhor ponto de partida para os intressados.Como a maioria dos países de língua francesa nesta região de África, as influências musicais, são vastíssimas.A maioria dos artistas apresenta musica tradicional do Congo, Chansson Française,Highlife e Afrobeat, (bastante obvio nas faixas de Ouinso Corneille & Black Santiago e da Picoboy Band D’aborney) fundidos com as importações que chegavam a Porto-Novo via Eua como o Funk e o Rock psicadélico.A influência da musica de James Brown é bastante notória na musica de Roger Damawuzan e da Orchestre Super Jheeves Des Paillotes.Com Vincent Ahehehinnou é audível um autêntico freakout de Hammond.A fechar o album Les Volcans de La Capital assinam uma longa jam que nos leva a Cuba.A talvez mais conhecida banda do Benin, Orchestre Poly Rhythmo de Cotonou assina também três faixas, sendo duas delas colaborações.
Talvez a peça mais fulcral do mundo sonoro da Analog Africa.Formados em 1966 a Orchestre Poly-Rhythmo são uma lenda viva. Segundo o site da Analog Africa, mais de 500 títulos foram recuperados e as “melhores” faixas foram compiladas em dois volumes.Em “Echos Hypnotiques Vol. 2”, sao reunidos temas gravados para uma das maiores editoras da zona “Albarika Store”, já “The Vodoun Effect Vol. 1” junta temas editados por independentes do Benin e gravados clandestinamente entre 1972 e 1975 (altura em que se instalou uma ditadura no país).
Ambos os discos percorrem o highlife,afrobeat,funk, soul e até rumba ou salsa, sendo que o segundo volume é ligeiramente superior, talvez por se tratarem de “hits”.
Licks de guitarra a transbordar de eco,stabs de sopros,solos de orgão e baixos bem groovy tudo em conjunto com uma polirritmia feroz e impetuosa.
Por fim,”Legends Of Benin”, a mais recente compilação da editora, reúne gravações de 69 a 81 e centra-se em quatro musicos: Antoine Dougbé, El Rego, Honoré Avolonto e Gnonnas Pedro, o primeiro musico que Ben Redjeb descobriu na região e que o levou a procurar mais. A sonoridade aqui é obviamente filha do mesmo casamento que fez nascer a Orchestre Poly-Rhythmo, mas com genes mais jazzísticos. Os solos nas musicas de Honoré Avolonto podiam bem ter vindo de uma compilação da Ethiopiques ou um registo semelhante de um país muçulmano.
A juntar a toda esta qualidade sonora, juntam-se paginas intermináveis de informação composta de textos a relatar as mirambulantes aventuras de Samy Ben Redjeb, relatos intressantíssimos dos musicos, quilos de fotografias e até um diário de bordo em “African Scream Contest” registando as datas e sítios no mapa por onde passou.Os booklets teem em media 50 paginas!
Isto faz com que a Analog Africa seja uma editora essencial dentro de um espectro revivalista daquilo que é verdadeira musica africana do século XX.
Felizmente existem editoras com tanta dedicação e paixão, que documentam uma era e através duma saudável obessesão disponibilizam musica que de outra forma dificilmente seria ouvida pelo mundo fora, já que não poderia ter surgido noutra região.