Comecei a conhecer a obra de Darren Aronofsky (apesar do apelido é nova-iorquino de gema), a partir do seu primeiro filme – “Pi” (1998) – ter ganho o Prémio de Melhor Realizador do Festival de Cinema de Sundance. “Pi”, filmado numa inquietante fotografia a preto e branco, é uma incrível viagem surreal pela mente de um génio matemático que tenta compreender a natureza, o homem e os mecanismos da bolsa (!) através de fórmulas matemáticas. Foi uma estreia estrondosa por parte de Aronofsky, com um filme altamente engenhoso, uma montagem frenética e uma notável utilização da banda sonora (de Clint Mansell, ex-elemento do grupo Pop Will Eat Itself).
Quando vi o filme pela primeira vez, confesso ter pensado imediatamente que Aronofsky se tinha estreado no cinema com uma obra independente tão retumbante como a primeira obra do David Lynch, o mítico “Eraserhead” (1977).
“Requiem for a Dream”, o filme seguinte, (2000) conseguiu o difícil feito de superar a originalidade do primeiro filme. Espantosa meditação sobre o mundo das dependências (drogas, televisão, substâncias diversas) e do universo degradante (físico e psicológico) que provocam a quem se submete a elas. A actriz Ellen Burstyn foi nomeada ao Óscar de Melhor Actriz pela sua impressionante interpretação. Darren Aronofsky consegue, neste “Requiem for a Dream”, construir aquele que será o filme definitivo (e sem moralismos primários) sobre um certo mundo actual, desfasado da realidade e repleto de mentes alienadas.
Dois anos depois, surge “The Fountain – O Último Capítulo”, o realizador e argumentista Darren Aronofsky decide repartir a narrativa em três momentos e espaços distintos: a época das conquistas quinhentistas, o presente e o futuro. Com uma qualidade visual e plástica deslumbrante, “The Fountain” debruça-se sobre temas eternos como a transcendência da alma, a ideia do amor como linha condutora de todas as nossas acções, a memória como elemento catalisador e uma certa reflexão filosófica sobre a mortalidade.
Por conseguinte, com “Pi”, “Requiem for a Dream” e “The Fountain”, Aronofsky criou uma trilogia de grande coerência estética (ainda que possa não parecer) e de invulgar fulgor artístico. Uma espécie de primeiro capítulo para uma longa carreira. Com o recente e já oscarizado “The Wrestler” (meditação sobre um herói caído em desgraça) , Aronofsky volta a dar cartas no cinema contemporâneo. Vamos ver o que nos espera, daqui a um ano, o seu próximo projecto chamado… “RoboCop”.
Esperemos que este filme de cariz manifestamente comercial e de encomenda, não desvirtue as imensas qualidades deste cineasta que um dia disse “When I go to movies I generally want to be taken to another world”. Não queremos todos?
Um trailer de “Pi” com a fantástica banda sonora de Clint Mansell (registo drum’n’bass old school):
PS – Com este post termino a minha colaboração de dois meses com o “Amplificasom”. Obrigado!