Burial
Eu sei que não é do estilo que mais interessa aos leitores deste blog, no entanto também é fácil de ver que gravitam aqui pessoas com grande abertura no que toca aos gostos musicais.
Confesso que não me lembrava de Burial há dois ou três anos, mas como para mim foi importante, por resumir um momento que se viveu por volta de 2005/2006, vale a pena assentar umas memórias.
O dubstep surgia em cena, e como foi na altura que me mudei para a faculdade e para o Sul de Londres, apanhou o meu círculo de surpresa. Se o dub já lá ia, com Burial, tal como antes com o Kode 9 (principalmente pelo álbum com o Space Ape), o dubstep ficou ainda mais negro, com os ambientes nocturnos a darem lugar às madrugadas. As batidas deixaram de ser sincopadas, algumas vozes dissonantes e meio-escondidas surgiram, e uma geração viu os sentimentos que eram comuns a serem expostos por um produtor solitário. E só isso fazia sentido. Praticamente todos os movimentos por que me interesso surgiram algumas décadas antes de eu nascer, no entanto como eu fiz parte da primeira geração a crescer realmente a usar a internet de um modo diário, na altura em que Burial surgiu em cena e o primeiro álbum saiu, e no bairro onde eu morava e outros, começou a explodir o fenómeno street art como meio genuíno de expressão, com a aprovação de galerias. Claro que o graffiti precede-o por mais de quatro décadas (ou quatro mil anos, se se for por aí), mas a sensação de liberdade que havia, coadjuvado por um estilo novo de música que se podia chamar nosso, foi para mim mágico. Por certo, há outros estilos que tiveram mais impacto em mim e que gosto mais, mas não os posso chamar de meus, pois já cresci a acompanhar os desenvolvimentos, e não a génese. Por estar numa universidade no centro de muitas dessas pessoas, acabei também por sentir alguma pressão em ser mais activo, pois toda a gente fazia autocolantes, pintava e acabávamos por sentir todos a mesma música depois da escola.
Mas eis então que quando toda a gente andava envolvida nos ímpetos criativos (e tendo em conta o estado da economia, que dizem ser deste modo benéfico para a criação), surge a música de Burial, em torno da qual as pessoas podiam congregar de uma maneira solitária, se isso é possível. Não era a música que passava nas discotecas, mas aquela que nós ouvíamos quando íamos para casa já sozinhos, a pé ou de autocarro, e com os primeiros raios de sol a aparecerem. Quando as pessoas ainda estavam a absorver o album homónimo, sai o Untrue, e Burial, um rapaz a fazer música num quarto, cimenta o seu lugar na história.