“Começo a escrever na altura que o comboio parte da estação de Tilburg. Já estou com saudades da cidade e do Roadburn. Adorei a cidade, tipicamente Holandesa, pequena, limpa, cheia de raparigas lindas e sem a imagem de plástico que Amesterdão transmite. O festival foi provavelmente o melhor que irei na minha vida. A organização leva os parabéns, só pecando pelos preços da alimentação e bebidas, com destaque para a banhada que era a comida vegetariana. Nossa sorte foi um turco para comer e o Cul de Sac e as suas esplanadas envolventes para beber cerveja belga. Consegui safar dormida pelo couchsurfing para 5tugas, sendo que os 2 deuses do Barreiro ficaram numa casa cheia de roadburners malucos da Suécia, tendo o Pinto e o Pedro ficado com um professor de piano. Eu fiquei na casa da Saskia, que foi uma hoster 5 estrelas e sempre deu para falarmos das culturas dos nossos países e não ser só rock e drogas.
Passando aos concertos, perdi a virgindade com os Unfommaut, rapazes agradaveis, mas não foram surpreendentes, no final fiquei com a certeza que não eram banda para o palco principal.Vieram os Baroness, que grande concerto. O vocalista/guitarrista passou o festival possesso por Lazarus, não tendo eu ficado grande fá do disco, depois de os ver mudei de ideias, fez-se luz. Melhor concerto do 1 dia. Depois assisti a primeira música dos Minsk, na sala pequena, com um gajo chamado Steve Von Till ao meu lado. Só tendo visto a primeira música, sei que os concertos na tuga serão muito bons. Vinham os Zu no mesmo palco pequeno, sinceramente ia reticente, com medo de ouvir coisas que os Last Exis faziam a 20 anos atrás, sou mesmo estúpido, mafiosos deram o 2 melhor concerto do 1 dia, samples em espanhol de elevada qualidade, sopros gigantes, baixo pantagruesco e baterista endiabrado. Ainda apanhei 20 minutos de Alexander Tucker na sala minúscula, tocando para 20 pessoas. Daquilo que vi o rapaz safa-se em concerto. De seguida para a sala pequena, super lotada, para ver os Wolfes in the Throne Room. Gosto dos discos, mas as 3 músicas que ouvi foram uma desilusão. Parei para ver MotorPshyco no palco grande e estava a gostar até entrar a voz, fecheo o tasco pelo 1 dia. Mais copos e regresso a casa como pendura numa bicicleta.
O 2 dia começou com um concerto de Steve Von Till/Harvestman, sozinho no palco com uma guitarra eléctrica, creio que me vim uma vez durante o concerto. Metade foi músicas dos discos homónimos e a outra metade dos discos de Harvestman. No final olhei para a trupe tuga presente e estávamos todos com um grande sorriso e queixos caídos. Fui ver os Mono desconfiado como fico sempre com concertos de bandas pos-rock. No final do concerto sai da sala com a certeza de que são a melhor banda do género da actualidade. Arrastado pela multidão fui sofrer durante 4 músicas de Cathedral, tendo fugido rapidamente. Depois levaria com 1 hora de Saint Vitus, claro que não foram geniais, mas ainda me fizeram ter prazer em estar a assistir ao concerto ao contrário da tristeza que foi assistir a 3 músicas de Amon Dull. Segui viagem para o Scott Kelly na sala pequena, sozinho com uma guitarra acústica. O Scott estava falador e foi um concerto mesmo grande, colocou a sua alma a nossa frente e tocou grandes músicas, para mim foi o melhor concerto do 2 dia.
No 3 dia comecei com os Grails, sendo que foram tão bons como imaginava e deles só esperava que me fizessem cair os tomates no chão, feito que conseguiram facilmente. No final encontrei a mesma trupe tuga todas de boca aberta a pensar donde tinha surgido o comboio que nós tinha atropelado. Observei as 3 primeiras músicas de Earth, deu para ver que o concerto seria igual ao do Porto, pinga da boa. Sai a correr com a trupe Barreirense para ver o Eugene Robinson, na sala minúscula falar num microfone. Aquilo que o Eugene falou em 30 minutos será uma recordação longa na minha memória, histórias de abusos físicos sofridos na juventude e infância, sendo que a última delas não posso contar senão ele vem atrás de mim ata-me a uma cadeira e tortura-me. Passado os 30 minutos entram os Black Sun no palco e começam a tocar uma música que podia ser Godflesh circa 91,com o Eugene a alucinar na voz. Melhor spoken word da minha vida. Fui ver Six Organs sozinho com uma guitarra, para mim foi o melhor concerto do festival até essa altura. Já tinha visto concertos do Ben sozinho, com banda e nenhum foi tão bom como este. Quase chorei quando ele começa a tocar a Fire of the Mind dos Coil. Numa altura deixa a guitarra a fazer um drone e vai sozinho para o microfone, lançando uns berros a black metal que dariam muito a aprender ao vocalista dos Wolfes, simplesmente genial. Depois fui ver os OM, donde o Ben Chasny me diz “incrivel terem posto os OM e os Zeni Geva ao mesmo tempo”. O concerto foi bom, mas não foi uma pedrada, creio que o novo baterista abusa um bocado, mesmo assim ver o Al Cisneros abanar a cabeça como um pinguim enquanto bate no baixo foi muito bom.Vinham os Neurosis, claro que foi o melhor concerto do festival. A trupe tuga toda fez um círculo colada a grade, começam o concerto com a “Sun that never sets” e acabam com a Trough Silver in Blood”, naquele que foi o melhor final dum concerto que já vi na minha vida. Pelo meio tocaram a “Times of grace”,”Stones from the Sky”, “Belief” e mais 5 músicas do último disco. No final do concerto a trupe tuga toda foi para o meio da rua, levar com ar fresco, parecíamos crianças, todos a sorrir e a pensar se aquele teria sido o melhor concerto da nossa vida. Fiquei 2 horas sem ver concertos, recuperando e segui ainda atordoado para ver os Tribes of Neurot. Estavam os Neurosis no palco (incluindo o Josh Graham com uma guitarra). O concerto começou por ser electrónica cheia de repetições, sem batidas, com o baixista no velhinho sintetizador que o acompanha a há mais de 15 anos. Quando levavam como 20 minutos, o baixista agarra no baixo e começa a tocar blues queimado repetitivo, depois foram 10 minutos do que podia ser Can na fase Tago Mago, continuaram mais 20 minutos de electrónica marada e acabaram com 10 minutos de pós-rock cheio de força, daquele que já poucas bandas fazem, nos últimos 5 minutos o baterista estava possesso. Para mim foi um grande fecho para o Roadburn, todavia recordo a cara do Pedro Mendes, nós os 2 agarrados a grades e a olhar um para o outro a pensar que tudo podia ser um sonho.
No final só queria agradecer aos Holandeses e Holandesas que nós ofereceram as suas casas e nós permitiram ter dinheiro para ir ao festival. Melhor festival dos meus 29 anos de vida.”