E ali estava ele
[a banda sonora para um delírio de meia-noite como este é feita pela nossa cabeça. desde estática, a um spoken word do adolfo, aos skinny puppy e, porque não, algo mais adocicado feito pelo devendra ou um arrasto sonoro do glenn branca.]
E ali estava ele. Rogério, 37 anos, perante si mesmo. Nu, despido de si mesmo, de preconceitos e pensamentos. «Nada, não me ocorre nada». Rogério odiava prazos e pressões. Mas acima de tudo odiava que procurassem significados bacocos em momentos, imagens e palavras que lhe tinham brotado num daqueles momentos instantâneos. «Foi só porque sim». Havia explicado assim o momento que todos lhe apontavam como tendo sido de uma genialidade rara, ímpar. «As palavras valem por si mesmas. Ou valem aquilo que todos quiserem que valham. Mas para mim estão sempre nuas, despidas». Tal como ele estava perante a vertiginosa folha quase em branco. Rogério via-se reflectido na palidez na folha, à espera de ser escrito e discorrido, pensado, distorcido. E sentia um quase medo por estar a ser escrutinado e pensado por si mesmo. «Para quê, se eu sou um nada? E as palavras mais nada são a não ser um vazio. E eu não consigo ser para além de mim, ser exterior a mim». Rogério sabia que ia ser uma noite longa. E tão branca e pálida como a folha, acompanhada apenas de uma espécie de borrão escrevinhado. “E ali estava ele”, tinha escrito.
Foi um prazer este mês aqui no tasco e partilhá-lo com tanta gente boa. Obrigado ao André pelo convite e a todos os que foram passando e mandando as suas postas! E vou voltando todos os dias aqui, à espera de um concerto Amplificasom para me estrear – sou pecador, sim.