De Beethoven a Barn Owl: Estagnar ou inovar?

 

Algumas pessoas acham que a música clássica é a única com valor artístico e que o resto é só entretenimento; outras acham que é um estilo com demasiadas regras e que acaba por soar tudo ao mesmo. Mas hoje em dia a própria distinção é difícil. De que lado fica o jazz? E os experimentalismos dos últimos 50 anos? Partindo do fim do período clássico, vou tentar traçar um percurso da música “clássica” do século XX, agora que se assinala o centenário de Pierrot Lunaire de Schoenberg (dizer “música clássica” para falar de música erudita acaba por ser um erro, mas acho que falar de eruditismo tresanda a pretensiosismo e condescendência, pelo que me fico pela expressão anterior). Algumas correntes seguiram o mesmo caminho que géneros a que estamos mais habituados, como o post-rock, o metal progressivo, ou o techno, e pode ser interessante procurar semelhanças entre os dois mundos.

Para muitos melómanos, Beethoven representa o pináculo da música clássica, o melhor até então e o melhor desde aí. Mozart podia ser igualmente brilhante (e mais precoce, já que começou a compor aos cinco anos, e alguns anos depois já era capaz de compor peças inteiras de cabeça, sem precisar sequer de ouvir as melodias no piano) e Bach mais metódico (de entre muitas experiências, tem uma música composta para ser tocada de trás para a frente e de frente para trás em simultâneo, repetida infinitamente), mas cada um deles estava ainda um pouco limitado pela sua época. Beethoven era um freelancer, recebia pensões das sociedades aristocráticas, e compunha o que lhe desse na cabeça. Na 9ª Sinfonia, decidiu usar uma orquestra gigante (usando 12 contrabaixos para compensar a surdez e sentir os graves da música), fazer uma espécie de resumo da Música até aí (compondo umas passagens de acordo com regras musicais medievais, outras de acordo com o período barroco, etc), e prolongar a composição até uns pouco habituais 74 minutos (e não é coincidência que seja essa a duração de um CD de música, já que foi o “standard” adoptado). Morreu 3 anos depois, em 1827, historicamente entre o período clássico e o romântico.

O que fazer depois disso? Alguns compositores viram-se ao início incapazes de fugir ao fantasma de Beethoven – a primeira sinfonia de Brahms é muitas vezes chamada “a 10ª de Beethoven”. Outros, para se afastarem do estilo clássico e tentando aproximar-se da estética do Romantismo nas outras artes, começaram a usar escalas menores e a produzir música mais melancólica, muita dela no piano (Chopin, Liszt, Debussy, Schumann…), Wagner tentou ser ainda mais sumptuoso, Bizet, Mahler, Strauss e outros tentaram unir mais a música popular e a clássica, mas não houve nenhuma mudança radical. Para isso temos de entrar no Século XX.

Durante as próximas semanas vou escrever sobre alguns dos compositores mais importantes do século passado, partilhar algumas das suas obras e contextualizá-las. Ao compará-los com artistas actuais, espero dar a conhecer um bocado deste mundo, receber sugestões e, quem sabe, inspirar os compositores que por cá andam.

 

Na próxima semana: De Schoenberg a Peter Brötzmann