Fabio Orsi / My Cat Is an Alien
Fabio Orsi / My Cat Is an Alien – For Alan Lomax (2006, A Silent Place)
Este disco partilhado por Fabio Orsi e os irmãos Roberto e Maurizio que constituem o projeto My Cat Is an Alien é dedicado a Alan Lomax, um “coletor” sonoro, que ajudou a enriquecer aquilo que hoje é conhecido ao nível da música Folk entre outros sons e paragens.
No diz respeito à música, verificamos que há aqui alguma generosidade, já que o tema de Fabio Orsi fica perto dos 40 minutos o que por si só daria um ótimo disco, mas ainda temos mais 30 minutos de música experimental e drones dos MCIAA. Orsi começa por construir a narrativa com drones retirados do computador, suportados por guitarra e teclado, formando ambientes eletroacústicos que têm tanto de inquietação como de beleza. Tratando-se de uma homenagem a Alan Lomax, também são trazidos para esta história algumas gravações de sons capturados noutros contextos (field recordings), outras pessoas, fios de tempo trazidos para um espaço sonoro diferente. Conforme o piano vai ganhando terreno e deixando que cada tecla atinja a sua profunda sustentabilidade, cresce a beleza, atirada nos minutos finais para novo crescendo de drones metálicos que terminam quase em silêncio, enquanto ouvimos vozes retiradas das gravações de Lomax, numa homenagem perfeita e feita de devoção. Terminada a primeira parte do disco, difícil será superar ou prosseguir após o que se ouviu, mas ainda temos os My Cat Is an Alien, aqui com uma gravação de um concerto, ambiente ideal para dar a Lomax aquilo que ele procurava, o espaço real onde se fazem os sons. Os MCIAA usam maquinaria diversa (e alguns brinquedos) para irem moldando um drone luminoso, parecendo às vezes que estamos a ouvir insetos ao mesmo tempo que uma harmónica é usada para dar algum fundamento às raízes Folk. As guitarras avançam em dedilhados até atingirem o ruído. Procura-se construir um código, uma tentativa de diálogo muitas vezes impossível quando desconhecemos o território e cultura onde nos encontramos. As vozes prolongam-se em cânticos, em cultos de libertação. Nunca se cessa a exploração, não se deixa de vencer os tumultos, aprende-se a ouvir os sons no silêncio e são este tipo de experiências que fazem deste disco um tributo e um disco essencial para quem gosta de música experimental.