Free Jazz. Top 10. Anos 2000.

Não gosto de listas e seleções de ‘tops’. Minha intenção ao fazer esse ‘Top 10’ foi a de mostrar que o free jazz e a free improvisation seguem como formas vivas de criação musical radical. Quando falo sobre free jazz, muita gente demonstra encarar esse gênero como algo datado, que teve seu momento/papel histórico e que depois desapareceu (ou ficou apenas revolvendo-se sobre cinzas passadas). Muito dessa visão deve-se, sem dúvida, a Winton Marsalis e aos críticos que o compraram como a grande última revelação do jazz. Não que o trompetista não seja qualificado e dono de um som refinado. Mas sua visão estreita sobre o que representa o mundo jazzístico causou danos maiores do que muita gente imagina… O free jazz se consolidou como um mundo sonoro próprio e continua rendendo obras geniais, novos músicos inventivos e muita coisa boa que merece ser ouvida e conhecida. Essa lista se propõe apenas a destacar alguns músicos e álbuns que mantiveram o gênero vivo nesta década, neste século. A ordem é aleatória: o 1º não é mais relevante que o 10º _e muitos outros, é óbvio, ficaram de fora. Todos os citados merecem ser conhecidos e desfrutados com a mesma urgência…

1º Ivo Perelman / “Suite for Helen F.” (2003)
Disco do saxofonista brasileiro executado por um ‘duplo trio’: dois baixos, duas baterias e o sax-tenor de Ivo. Álbum duplo, não recebeu a atenção que merecia e, parece, já está fora de catálogo. Talvez o grande trabalho de Perelman.

2º The Thing / “Garage” (2005)
O saxofonista sueco Mats Gustafsson é um dos mais ativos e contagiantes músicos da atualidade. Com seu power trio “The Thing” tem buscado aliar as forças do free jazz com as do punk-rock-garage. O disco traz poderosas versões de Aluminium (The White Stripes) e Art Star (Yeah Yeah Yeahs).


3º Peter Brotzmann / “The Fat is Gone” (2007)
O sempre tão falado Peter Brotzmann continua se reinventando a cada dia. Aqui, alia-se a Gustafsson (sax) e Paul Nilssen-Love (bateria) para criar um disco fantástico. A primeira faixa (Bullets Through Rain) é uma das mais intensas das últimas décadas.

4º David S. Ware / “Renunciation” (2007)
Álbum de despedida desse que foi o maior quarteto dos 90. Ao lado de William Parker, Mattew Shipp e Guillermo E. Brown, Ware aparece aqui mostrando faixas novas (“Ganesh Sound”, “Renunciation Suite”) que nunca receberam versão em estúdio. Obrigatório.

5º Paul Flaherty / “Beloved Music” (2006)
Encontro do mítico saxofonista Paul Flaherty com o novato baterista Chris Corsano. A dupla gravou, nos últimos anos, pelo menos uma meia dúzia de duos como esse. Como Charles Gayle, Flaherty passou anos de grandes dificuldades e esquecido na cena musical.

6º Ken Vandermark/Nilssen-Love / “Dual Pleasure” (2002)
A dupla também reaviva esse formato clássico do free jazz: o duo sax-bateria. Vandermark, oriundo de Chicago, lidera uma série de projetos desde os 90, sempre pautado pela música livre e inovadora.

7º Tsahar/Kowald/Murray / “MA” (2002)
Esse disco marca o encontro de três escolas distintas do free jazz: na bateria, o americano Sunny Murray, que faz parte da história dos primórdios do gênero. No baixo, o alemão Peter Kowald, morto em 2002. No sax, o israelense Assif Tsahar, destaque dos anos 90.

8º William Parker / “O’Neal’s Porch” (2000)
Quando se fala em baixo no jazz, as pessoas ainda pensam em Ron Carter, Jimmy Garrison e Ray Brow. Ainda obscuro para o grande público, William Parker é, sem dúvida, ‘o nome’ do instrumento na atualidade. Aqui aparece com seu quarteto.

9º Ibarra/Courvoisier/Léandre / “Passaggio” (2002)
Passaggio traz três das maiores instrumentistas da atualidade em inspirado trio piano-baixo-bateria. Das três, a baterista Susie Ibarra é a mais envolvida com a cena free jazz, tendo sido parceira de Tsahar e pertencido, durante os 90, ao David S. Ware Quartet.

10º Matthew Shipp / “Nu Bop” (2002)
O pianista norte-americano dialoga com sonoridades eletrônicas para criar um disco muito swingante e contemporâneo. Na época do lançamento, chegou a ser rotulado pela crítica como “funky avant-garde jazz”. Essa é apenas uma das variantes sonoras do prolixo e criativo Shipp.