Fui a Barcelona e vi os DEVO

Há dias, durante a visualização do “Midnight in Paris”, um dos diálogos referia algo que no meu entender reflecte muito daquilo que sinto em cada cidade e, particularmente, em Barcelona. A frase dizia o seguinte “Às vezes penso como poderá alguém criar um livro, um quadro, uma sinfonia, uma escultura que compita com uma grande cidade? Impossível. Porque cada rua é uma forma artística especial.” Parece-me que esta frase encarna na perfeição aquilo que sinto em cada visita a Barcelona. A cidade é um estado de arte com uma pureza inabalável.

Outra expressão que também me eleva logo para a capital da Catalunha é que, considero que ninguém sozinho tem a força necessária para mudar uma cidade. A cidade é que muda as pessoas e os comportamentos que daí resultam. Em Barcelona é impossível não se andar com uma disposição fora do normal. A animação e os bairros são tão diferenciados que é humanamente complicado não se ser mudado em termos de humor por ela. Se há locais que nos tomam pela melancolia e nostalgia, há outros que têm o condor de transmitir um efeito muito positivo. Barcelona é essa cidade.

Barcelona tem tudo. Vivência de dia e de noite e, que cidade não deve ser valorizada quando na rua se pode comprar latas de Estrella Damm? Sim, a cerveja é uma bela manha, mas a meio da noite a sede aperta e há sempre um benfeitor que está disposto a negociar uma latinha do miraculoso elixir. Depois há o maravilhoso Bairro Gótico que cada ruela é uma história nova.

Que se lixe a Sagrada Família, que diga-se de boa verdade é um descalabrado e atentado à beleza, mas felizmente o Gaudi não estava completamente maluco e criou obras estrondosas como o Parc Güell.

Quanto ao Primavera Sound, existem apenas dois festivais na Europa que me fazem olhar várias vezes para os nomes, um é o Primavera e o outro é o Roadburn. Talvez por isso, seja para mim muito fácil comprar o bilhete a preço reduzido sem saber uma única banda. Vai ser sempre bom, é certo. Veja-se o exemplo deste ano.

Há cerca de uns anos vi lá uma das bandas que mais me orgulho de ter visto e sinto mesmo que foi um privilégio. Ver os DEVO a tocar só me fazia pensar que era capaz de andar semanas com o Energy Dome, inclusive durante o trabalho. Que maneira mais honrada de os lembrar do que de fato e gravata e com um bonito Energy Dome vermelho na cabeça. Que banda magnifica de velhotes que ainda encaram a música de uma forma tão entusiástica e descomprometida.