Fui a Tóquio e vi os Mono

Foto por Tiago Esteves

Foto por Tiago Esteves

Encontro-me neste momento a ler um livro de Tiago Salazar, Viagens de Sonho, que reflecte algumas viagens que o autor fez. Apesar do pouco estimulante que está a ser a leitura, existe uma parte com a qual me identifiquei. Diz ele que “na vida, no amor e nas viagens – dizem os bruxos, os sábios e as mães avisadas -, há sempre o the one and the only, à americana de Tennesse William, ou o lugar que se pega o bonde chamado desire”. Para mim, esse local foi Tóquio. Sendo, de longe, o local de todos os que já tive, aquele em que mais me senti realizado.

O Japão sempre foi a minha viagem de eleição. Quando me perguntavam qual era o local que mais queria visitar, nunca hesitava na resposta. Fácil, Japão. O filme Lost In Translation acabou por constituir o click para, finalmente, poder concretizar esse desejo. Ainda hoje me recordo do quanto é indescritível estar em Shibuya e olhar para todos aqueles neons e para a correria das pessoas. Tal como a Scarlett no filme, ficava por ali, parado, a olhar para tudo aquilo, completamente rendido. Até que, enfim, estava no meu local de sonho. Tóquio.

Num dos primeiros posts, referi que, para mim, as pessoas são o constituinte preponderante numa cidade. Quanto às de Tóquio e, generalizando para os japoneses, não foram aquilo que se possa dizer, um povo caloroso, mas se isso não faz parte do seu género e forma de vida, como poderia pedir isso? Contudo, apesar de serem um povo extremamente introvertido, pelo menos no contacto com o estrangeiro, diria mesmo, envergonhado, sempre que deles necessitei, foram ultra atenciosos, respeitadores e cooperantes. No regresso, é impossível não se sentir uma admiração profunda pelo país e pela cidade. Acima de tudo, um respeito imenso por aquele povo.

Aquando do terramoto e tsunami no Japão, foi descrito que apesar do sofrimento e necessidade, as pessoas ficavam horas e horas, a respeitar a fila para obter alimentos e ajuda. Não se ouviu qualquer menção a algum motim ou pilhagem. Não é extraordinário? Sempre que ocorrem estas desgraças, existe sempre um aproveitamento e completo caos. No Japão não. Incrível.

Se em todas as outras viagens que aqui mencionei, os concertos foram o motivo da deslocação, desta feita, aquilo que aconteceu foi uma completa coincidência. Umas semanas antes de ir, foi anunciado um concerto dos Mono em Tóquio, em que a banda de abertura seria os Envy. Uma vez que o site de compras se encontrava em japonês, contactei os Mono para saber como devia proceder. A resposta não tardou e constituiu o incremento de um maior apreço pela banda e pelos seus membros. Uma vez que não me seria possível comprar bilhetes, o Taka teve a delicadeza de me colocar a mim e à minha companheira na lista de convidados. Durante a viagem, fomos trocando uns e-mails e fui-lhe reportando aquilo que estava a sentir no seu país. As respostas eram sempre tão singelas, simpáticas e amigas, que o meu sentimento por esta banda nunca mais parou de crescer e, para mim, actualmente são mais que música.

Quanto ao concerto, já os vi umas quantas vezes e não são capazes de dar um mau concerto. São a banda que mais mexe comigo. Se Tóquio é a minha cidade de eleição, os Mono, são, por sua vez, a banda que mais me realiza.

Para finalizar, e uma vez que este é o meu último post, queria agradecer à Amplificasom e ao André o convite que me endereçou. Como sempre, é um prazer escrever aqui e espero que todos tenham desfrutado alguma coisa com os meus posts. Sendo assim, uma última “deixa” de Claude Roy, que dizia o seguinte: “Atravessei muitos países, mas foram os países que me atravessaram”. Neste caso, a Amplificasom e o André atravessaram a minha vida e, como tal, o meu muito obrigado.