Fungologia musical

A música não é um cogumelo. Não aparece numa casa de banho por causa do excesso de humidade, nem no tronco de uma árvore por uma razão que desconheço e, como fim, não serve para fazer um molho de trás da orelha. Não é um elemento parasitário da nossa sociedade, mas uma bela simbiose da qual eu, admito, não me quero privar. Não surge, por isso mesmo, do ar, sem razão aparente. A música é uma expressão social, tanto quanto pessoal, ou não fosse o ser humano essencialmente comunicativo, um ser que vive em comunidade e em sociedade – e é assim que se desenvolve, por muito que a internet venha problematizar esta questão.

Não é, também, por acaso, que o contexto social acaba por ter um reflexo na música que um artista faz. Que o digam os Public Enemy, por exemplo, que os digam os Minor Threat de Ian MacKaye, e, de forma menos inflamada, que o digam, até, uns Black Sabbath, ou um Justin Broadrick.
Não será, igualmente, algo na água de Alec Empire, mentor dos Atari Teenage Riot, que o leva a fazer música como sempre fez e, agora, o leva a escrever um artigo como ESTE sobre o que está a acontecer em Londres, do qual posso destacar inúmeros momentos.
A falha, de que todos temos culpa, como sublinha bem Empire, é, para mim, tão simples que me faz confusão anunciá-la assim em tão parcas palavras, mas reconheço que fica em ausência uma explicação digna: falta reconhecer o lado social do homem; andamos a perder demasiado tempo a promover um individualismo liberal decadente.
Como bom problemetólgo, mais do que solucionólogo do ramo da politologia (aka, ciência política), essa disciplina profundamente fascinante, consigo reconhcer: a beleza da música, da arte, é a de não existir isolada, da mesma forma que eu, se falar sozinho, não estou a comunicar, pelo simples facto de não ser ouvido. Não há um eu na arte, quando é feita com alma, mais do que com cifrões. E também não há um nós. Há tudo o que está entre nós. Eu gostava de saber o será isso, por exemplo, na perspectiva dos Altar of Plagues, agora que o guitarrista vive em Londres.