Guilty Pleasures
O nosso pecadilho diário. Aquela banda ou música para a qual corremos, desesperados e necessitados, com uma base mas regular do que gostaríamos. Vá lá, todos nós temos um. Ou dois, ou três ou mais. Há uma série de coisas a que não conseguimos escapar: seja porque foram os nossos pais que nos mostraram quando éramos novos, porque crescemos a ouvi-la, porque se cola à parte de trás do crânio… Seja o que for.
Mas a verdade é esta: há sempre um pecadilho. Às vezes até temos vergonha dele, mas sentimo-nos deliciosamente felizes a ouvi-lo. E inevitavelmente ridículos quando admitimos perante alguém que “sim, eu gosto mesmo da ‘Another Day In The Paradise’ do Phil Collins”. Eu sei tenho demasiados guilty pleasures e adoro cada um deles. Acho que conseguia organizar temporalmente a minha vida através deles. São aquele tipo de coisas que fazem parte da minha vida, de uma forma ou de outra. E tenho a certeza que um dia destes, se bater com a cabeça e perder a memória, vai ser um desses temas a trazer-me de volta o juízo.
Tenho no mesmo pedestal o Peter Gabriel e o Phil Collins, porque sem eles não teria rock progressivo na minha vida. E no entanto, ninguém me tira o ‘Another Day In The Paradise’ do Collins. E a ‘Mama’, escrita nos Genesis dos anos 80 é um tema que me fascina. Ai de quem me diga que os Queen são sobrevalorizados. Tal como não há discussão possível sobre o Gary Numan: o tipo foi um visionário no que aos teclados diz respeito. Já deram uma escuta no ‘I, Assassin’, no ‘Berserker’ ou mesmo no ‘The Pleasure Principle’? Venha quem vier, ninguém faz pop como o Michael Jackson fez. E o Pedro Abrunhosa, para o bem ou para o mal, fez o ‘Viagens’. Não é toda a gente que se pode gabar de ter tocado com o Maceo Parker. E quem é a mãe do rock? José Cid, claro está. Sim, “10000 Anos Depois”; mas ninguém faz ‘Favas com chouriço’ tão bem e rápido como ele. Mesmo que o intuito seja esse, fazer dinheiro. A delícia pop que é ‘Clint Eastwood’ dos Gorillaz ainda hoje bate da mesma forma. E aposto que quase toda a gente do mundo sabe a letra da ‘Karma Chameleon’. Eu até tenho o vinil, herdado do meu pai nos tempos em que era DJ. E nem vale a pena falar de Prince ou George Michael.
Provavelmente ainda tenho mais, mas estes são mesmo os mais tocados da playlist “guilty pleasures” do meu ipod. Não vos quero convencer a ouvir nada do que aqui mencionei. Bom, talvez um ou outro, nomeadamente do Numan. Mas gostava de saber se só eu é que sofro de tão grande disfunção musical ou se mais gente por aí partilha de coisas tão monstruosa e deliciosamente pecaminosas.
O meu nome é António Silva e sou viciado em música foleira.