Histórias não tão secretas

Ontem vi finalmente dez minutos daquilo que é o Secret Story. Tive a (in)felicidade de apanhar o momento em que uma miúda foi expulsa do programa e teve que revelar o seu segredo. “Fiz parte dum assalto”, diz ela, e o público aplaude logo de seguida! Não me estava a acreditar. Ela não marcou nenhum golo nem fez uma cover afinadinha dum ídolo qualquer, ela comeu um crime! O público presente aplaudiu, milhões em casa gastaram dinheiro a votar e mais ainda a garantir audiências e receita a essa fabulosa escola que é a TVI.

É com este tipo de realidade que temos que saber viver: um povo generoso mas com uma enorme falta de sensibilidade cultural e bom senso, um povo que é um petisco para os canais generalistas e até para os próprios governos que nos desgovernam. De qualquer maneira, olhemos à nossa volta. Há mais alguma coisa interessante actualmente?

O facto da nossa dívida externa já representar 3 ou 4% do nosso PIB e a iminente entrada do FMI não interessa, haveria? Claro que não, que assunto aborrecidíssimo. Não tarda estão aí e depois vamos ver a sério o que é apertar o cinto e sermos roubados. Nessa altura reclamaremos. É essa mesma dívida que Sócrates tentou vender à China. Será que já se pensou que não será só a dívida a ser vendida mas sim também poder político ainda por cima a um país que SÓ por acaso é uma ditadura??!! E por falar em China, não é que o Facebook também já censura e removeu o perfil da Esquerda Anticapitalista espanhola que preparava uma manifestação na cimeira que vai ter lugar esta semana cuja importância é tão grande que até teremos tolerância de ponto? Ridículo!

Nada disto interessa nem o facto do secretário de Estado da Protecção Civil ter afirmado na semana passada que vão começar a convocar os beneficiários do subsídio de desemprego para ajudar à limpeza das florestas esquecendo-se dos 30 a 40% que vivem à custa de rendimentos e passam as manhãs na cama e as tardes no café do Vale. Não há fiscalização, não há critério, inclusive existe corrupção. A ideia do Guterres aka Pai Natal era boa, a materialização da mesma é que sempre foi péssima e já lá vão mais de dez anos…

Enfim, claro que nada disto interessa. No entanto, preocupa e não sei que país vamos ter daqui a uns anos, a que Europa vamos pertencer e em que mundo vamos continuar a viver. Ou a tentar. De qualquer maneira, mesmo em dias cinzentos, chega-se a casa, prepara-se o jantar, abre-se uma tinto aveludado e fazemos play a temas como o de baixo. Eu disse que nada mais interessava? Claro que não…