Klássicos: Hymn To The Immortal Wind


Por Ana Beatriz Rodrigues

Cheguei atrasada aos Mono, da mesma maneira que demorei a perceber o papel que a música desempenha na minha vida. Mas o relógio não importa, nada importa, o tempo pára quando a “Ashes in the Snow” começa e se inicia aquele rasto demolidor de pequenos flocos gélidos no nosso coração.

Em 2010, ainda semi-imberbe naquilo que eram e são os Mono, entrei num Musicbox à pinha e lembro-me, como se fosse hoje, de comentar com quem me acompanhava: “Isto é poesia em música!”. A Lais estava comigo e retratou tudo, maravilhosamente (como é habitual): o problema é que, nem sempre, as imagens valem mil palavras, nem tampouco nos levam àqueles momentos em que saboreamos arte, de olhos fechados.

Por falar nisso, padeço de um mal: tendo sempre a pensar na música não só como música, tendo sempre a relacioná-la com o cinema ou com a literatura e é isso que tento colocar naquilo que escrevo. Os Mono, naquela apresentação do “Hymn To The Immortal Wind”, fizeram-me chorar, da mesmíssima maneira que o Yeats me fez chorar quando li isto: «But I, being poor, have only my dreams/ I have spread my dreams under your feet/ Tread softly because you tread on my dreams.»

É essa capacidade de sonhar e de evadir (não querendo soar a cliché, mas sendo-o ao mesmo tempo) que torna um disco de 2009 num clássico. Porque o que é o “Hymn To The Immortal Wind” senão um refúgio? O mundo apaga-se, o cérebro entra em rewind e é tão fácil relembrar as dores que carregamos, ou a nossa primeira vez a andar de bicicleta, ou o nosso primeiro grande amor, ou aquela pessoa que nos partiu o coração como nenhuma outra.

Acho que é esse o dom dos Mono e deste Klássico em particular: o de conseguir que cada canção seja uma canção de cada um de nós. Há a minha, há a tua, há a de toda a gente e todas elas com significados distintos para cada uma dessas pessoas. Além da poesia, além da banda-sonora de uma vida, além de uma carga trágica mas inopinadamente bela, além de tudo… os Mono fazem-nos sentir vivos, com tudo o que de bom e de mau que já passámos.

No ano passado, voltei a vê-los ao vivo. Ouvi a “Burial in The Sea” e pensei naquela pessoa que me desapareceu. Não chorei, o concerto não teve o mesmo impacto do de 2010, sobretudo porque se centrou na apresentação do também incrível “For My Parents”. O certo é que saí do Hard Club com menos dinheiro no bolso, mas muito mais rica: comprei a discografia completa dos Mono e coloquei este “Hymn” a tocar. Será que cinco anos fazem de um disco um clássico? No fundo, isso não importa. O que importa é aquilo que sentimos com um disco. E se ele nos faz sentir a sério, é só isso – e nada mais – que importa.

1. Ashes in the Snow
2. Burial at Sea
3. Silent Flight, Sleeping Dawn
4. Pure as Snow (Trails of the Winter Storm)
5. Follow the Map
6. The Battle to Heaven
7. Everlasting Light