Klássicos: Panopticon

Todos nós temos aquele disco, aqueles discos vá – mas poucos, que recorremos com frequência. E com frequência refiro-me a uma vez por mês, no mínimo, mesmo quando foi editado há anos e cujos riffs passaram centenas e centenas de vezes pelos nossos ouvidos. Um dos meus soul-fixer, editado no já longínquo 2004, é o terceiro disco dos saudosos Isis.

Lembro-me que o meu primeiro contacto com a banda foi via Rocksound, o cd que acompanhava a revista. Numa das edições, a Carry do anterior Oceanic acompanhava-a e logo aí senti que estava perante algo distinto. Lembrar-me-ia deste pormenor apenas quando o Panopticon começou a ter demasiada (leia-se merecida) exposição e faria o download para saciar toda a minha curiosidade.

Foi amor à primeira audição.

É óbvio que na altura foi meramente emocional, só com o tempo concluímos onde o disco chega e o quão importante se torna. Lembro-me da confusão da imprensa, etiquetas para trás e para a frente até que o post-metal colou, o boom aconteceu, e todo o espectro, tirando duas ou três bandas que ainda hoje acompanho, se tornou obsoleto.

O Oceanic talvez tenha sido pioneiro, mas o Panopticon tem um significado especial – e também aqui não podemos desassociar as vivências de cada um, em determinado momento, aos sons que ouvimos. É grandioso, desde aquele arrepiante início da épica So Did We até Grinning Mouths passando pelo hino In Fiction e a odisseia sonora chamada Altered Course. É directo, é fluído, denso, consistente, equilibrado, orgânico.. é devastador. E respira. E vive.

Ao contrário do que o Colin dos Amenra afirma (vê os discos conceptuais como desinteressantes), eu até sou um gajo que aprecia a conceptualidade de uma obra musical. O conceito surge, como sabemos, da perspectiva de Michel Foucault sobre a prisão de Jeremy Bentham. Os temas estão tematicamente conectados via Vigiar e Punir de Foucault e o próprio filósofo francês é citado: “The Panopticon is a machine for disassociating the see/being seen dyad: in the peripheric ring, one is totally seen, without ever seeing; in the central tower, one sees everything without ever being seen.”

Entretanto, passaram-se 10 anos. Tinha 21 quando comprei o cd (na Fnac do Gaiashopping – as merdas que um gajo se lembra) e estou quase nos 31. Vem aí reedição, reedição remasterizada (pelo finlandês Mika Jussila) e com novo artwork + booklet de 12 páginas que convence até aquele que não tem só o cd (autografado pela banda – situo quem desconhece: a Amplificasom trouxe os Isis pela primeira e única vez a Portugal no final de 2009), mas também o vinil, duplo, gatefold e azul do céu também ele já remasterizado pelo James Plotkin.

Estou curioso para ouvir os novos pormenores pois não há muito que se possa fazer num disco lendário. 28 de Abril é a data, Ipecac a editora.

A todos que só agora aqui chegam (nunca é tarde para nada): não vos posso dizer se vão gostar ou não. Absorvam o disco, do início ao fim, deixem-no preencher o vosso quarto, a vossa casa, o vosso carro, as vossas mentes… é um disco para ser sentido.

1. So Did We
2. Backlit
3. In Fiction
4. Wills Dissolve
5. Syndic Calls
6. Altered Course
7. Grinning Mouths