Música tibetana budista industrial?
Das músicas do mundo (world-music), os cantos dos monges tibetanos estão na primeira linha da minha preferência. Ora, uma coisa que nunca me tinha ocorrido era a possibilidade de relacionar a música dos monges do país do Dalai Lama com… música industrial! Foi o que fez o músico japonês Makoto Kawabata (na imagem), mais conhecido por ter pertencido ao grupo japonês de rock psicadélico/noise Acid Mothers Temple. Esta declaração foi feita, há alguns meses, na revista The Wire, na sempre interessante secção “Invisible Jukebox” (na qual os ouvintes tentam adivinhar e comentar discos que a redacção da revista propõe).
Um dos discos que Makoto ouviu foi um dos monges tibetanos do Mosteiro de Gyuto. O músico japonês explica: “Adoro esta música. A primeira vez que ouvi cantos tibetanos, senti que era música industrial para mim. Eu ouvia alguns discos de rock industrial e de noise, até que um dia ouvi um disco de música tibetana com aquelas vozes graves espantosas, aquele incrível eco natural, os instrumentos de sopro hipnóticos e as percussões avassaladoras. Aquele disco era para mim aquilo que a música industrial deveria soar: negra e misteriosa, uma sensação parecida a perigosos objectos metálicos deitados fora, um ambiente de medo e decadência. Há nos cantos guturais dos budistas uma profunda sensação de estranheza que eu sempre atribui à música industrial.”
Apesar de um certo exagero nas comparações, compreendo a intenção de Makoto Kawabata. A música dos monges tibetanos tem a mesma força profunda como a mais poderosa música noise/industrial/drone/whatever. Uma verdadeira força da natureza que varre emocionalmente quem se atreva a ouvir os cânticos tântricos budistas.