O drone e uma Magnum .45

O drone está em toda a parte: motores, condutas de ar, electrodomésticos gastos pelos anos. Às vezes encontra-se à espreita e só precisa de ser encontrado. Quando, nos últimos minutos de “Ms. 45”, a costureira sonsa vinga finalmente a violação sofrida, fá-lo da maneira mais indiscriminada: disparando sobre uma multidão sem qualquer critério (podia apenas matar os que vestiam os trajes mais ridículos). É aí que o filme de Abel Ferrara sofre uma transição, na imagem, tal como no som: passa do absurdo cómico para uma orgia de violência; interrompe a festa da música disco e mergulha num drone denso e baço (que reproduz, como gostamos, a baixa fidelidade das fitas de VHS de 1981). Abel Ferrara aprendeu bem a lição deixada por Carl Theodor Dreyer. A eficácia do horror pode também depender do drone que o acompanha. A sequência final de “Ms. 45” aí está para confirmá-lo.

MA