O laço sem música
Estranho, foi uma sensação estranha ter passado duas horas e meia numa sala de cinema sem ouvir um único tema. Nada no início, nada no final. Minto, ouviu-se os temas que os personagens interpretavam esporadicamente. Nada mais. Pergunto-me qual terá sido a intenção do Haneke? Acho que foi das coisas que me deixou mais curioso…
(Se fazem questão de ver o filme parem aqui!)
Quanto ao filme, é um belo retrato a preto e branco duma Alemanha do início do século XX. É uma obra-prima, um futuro clássico, é ir ao cinema ver Cinema. Inteligência e densidade narrativa, suspense, personagens esculpidas, planos fotográficos para não esquecer… São as tais duas horas e meia que ninguém dá conta, ficaríamos na sala a noite toda se tal fosse possível.
O filme passa-se todo numa aldeia alemã. Podia ter sido noutra aldeia qualquer, mas neste caso em concreto era alemã. Nela encontramos uma excelente panorâmica hierárquica de toda uma sociedade (quase que apetece fazer um organigrama) envolvida num ambiente de puritanismo, fanatismo religioso, medo e obediência onde crimes inexplicáveis começam a acontecer. Abrem-se janelas, nunca se fecham, e quando se dá a notícia do assassínio de Franz Ferdinand eis que toda a aldeia respira de alívio. O que acontece depois já todos sabemos, infelizmente. O que não sabemos é que o mal estava enraizado há muito tempo atrás.