O meu reino por uma baguete – Ep 4 – Audio shopping
Audiófilos são gajos que curtem coitar com aparelhagens stereo com menos de 4 anos. Mas para aqueles que gostam de se perder dentro de uma cidade à procura de cds, vinís (ou viniles?) e até k7’s, este artigo é para vocês. Tenho a certeza que vou deixar algumas lojas de fora, e se dentro dos meus milhares de leitores e fãs houver quem já tenha passado por Paris e visitado outras relíquias que não as que mencionarei neste artigo, é favor dirigir-se aos comentários e fazer menção.
“O quê? Este gajo compra cds na Fnac? LMFAO GTFO FYL etc”. Eu conheço bem as fnacs da cidade do Porto. Não quero de todo dizer que na capital seja assim, mas também já lá visitei umas e, apesar de encontrarmos bons negócios muitas vezes, para o sector verdadeiramente underground nunca encontrei uma que me tivesse satisfeito. Aqui em Paris sim, temos a fnac do Forum, onde há toda uma secção dedicada às editoras independentes, como a Thrill Jockey, a Hydra Head, a Neurot, Southern Lord e piaí fora. A secção de Metal também é bem recheada, e não podemos falhar na secção pop/rock, onde encontramos basicamente discografias completas de Camel, Cactus, Blue Cheer, King Crimson e muita boa cena do progressivo dos 60’s e 70’s. Os preços são algumas vezes convidativos, outras proibitivos. Mas, de qualquer das formas, se não encontrarem aquele cd/vinyl que procuram, lembrem-se que estão na melhor fnac de Paris, com provavelmente uma das maiores secções de BD/Anime da cidade, com estantes dedicadas ao cinema de basicamente cada país do planeta Terra e muitas mais coisas. Lembrem-se que também aqui neste shopping está o Forum des Images e dentro deste a biblioteca François Truffaut, sem esquecer que também tem cerca de 25 salas de cinema UGC (o equivalente aos nossos AMC). Sim, para aqueles amantes do cinema independente, noir, nouvelle vague, neo realista e o diabo a sete, este será provavelmente o vosso céu na terra. Preparem-se para perder uma tarde lá dentro. E já agora, lembrem-se que estão mesmo ao lado da Eglise de St Eustache, uma das mais bonitas daqui, e a 5 minutos a pé do Centre Georges Pompidou, um dos melhores museus contemporâneos da Europa.
Esta é para todos aqueles que adoram as pequenas lojas, escondidas dos olhares mais indiscretos, onde nos sentimos sempre confortavelmente em casa, onde sabemos que partilhamos secretamente os mesmos gostos que muitos dos clientes com que nos esbarramos de quando em vez. Quem no Porto não se lembra da Lost Underground e das horas que lá passamos, quer a ver aquelas bandas que não encontravamos em lado nenhum, quer a falar com o Óscar e a Iolanda. Esta é a loja do Nicola, um amante do noise/crust/screamo que, por acaso, adora futebol, é adepto do Marselha apesar de ser nativo de Paris e sabe muito da bola mesmo. Já fui ver jogos com ele, e acabamos sempre a discutir futebol sempre que o apanho, quer na loja, quer nalgum concerto. Se habitualmente vão a este tipo de loja, já sabem exatamente com o que contar.
No boulevard St Michel, mesmo em frente ao Museu de Cluny, uma relíquia da Idade Média e onde os Romanos estabeleceram umas termas há cerca de 2000 atrás, está o Gibert. Esta é, para mim, uma das melhores cenas de Paris. Não só pela música, mas por tudo o que aqui encontramos, onde cada esquina nos apanha de surpresa. Mas a loja de música é um horritroante OMG, com basicamente TUDO o que podemos sonhar. Entrar lá é encontrar primeiras edições, discografias completas das nossas bandas preferidas, secções infindas de todos os géneros musicais, onde podemos ir da Madona aos Kiss the anus of a black cat. Deixem esta para o fim, porque aqui deixarão o dinheiro, as jóias, o carro e o apartamento. You have been warned.