O som e os Sunn O)))

Preparava uma lista de melhores temas de 2009, na qual “Alice” dos Sunn O))) ocupa o segundo lugar. A lista terá ligações para o YouTube, esse depósito quase infinito de canções.
Recusei fazê-lo no caso de “Alice”: seria uma heresia mandar o utilizador para o YouTube. Por duas razões: o site limita cada vídeo/áudio a dez minutos e “Alice” tem umas maravilhosos 16; o YouTube tem uma qualidade de som que é um insulto para os Sunn O))).
Ponto prévio: confesso não ser particularmente exigente em termos de qualidade de áudio. Não sou um audiófilo. Ouço muita música em mp3, ligando o computador a uma aparelhagem (que é modesta). Ter crescido a ouvir música em cassetes e um passado punk rock terão ajudado nessa falta de interesse pelo som puro.
Mas os Sunn O))) pedem um tratamento diferente. Pedem que aumente o volume, que me concentre na música, que esvazie o cérebro ao sabor daquela música planante, seca, honesta. E nunca senti tanto isso como com “Monoliths & Dimensions”, o meu disco favorito do duo.
São, ao mesmo tempo, um poderoso murro no estômago do rock, da sua banalização e transformação em produto (são de uma seriedade notável em tempos de hedonismo) e seguidores de uma tradição rock fundamental – o impacto do som, a relação física que estabelecemos com um muro de guitarras, a sensação de perigo que isso nos provoca,
Inserem-se numa longa tradição que vai das ragas indianas, aos Velvet de “Sister Ray”, a LaMonte Young, aos Black Sabbath e aos My Bloody Valentine, até aos Melvins e aos Earth, guias espirituais dos Sunn O))). E são hoje, muito provavelmente, quem melhor encabeça esta linhagem.
Pedro Rios
PS – Obrigado, André, pelo convite.