Os eleitos de Thurston Moore
Como da última vez me pareceu frutífera a discussão em torno de Thurston Moore como free improviser, posto agora uma lista criada pelo guitarrista há alguns anos. Para boa parte desse material posso apontar links, basta me solicitarem (e o Andre dizer se é permitido adicionar links nos comentários ou se o melhor é fazer isso via e-mail…)
Thurston Moore apresentou à revista Grand Royal, editada pelo pessoal do Beastie Boys, uma lista com o seu Top 10 do Free Jazz Underground (que, na realidade, se estendeu por 14 discos). Isso foi em 1995 e talvez o guitarrista do Sonic Youth escolhesse outros discos hoje. Mas é sempre curioso ver que tipo de som interessa a um músico como Moore. Sua lista obedeceu a um critério interessante: escolheu apenas álbuns que considerou underground (pequenos selos, tímida distribuição), ficando de fora medalhões como Albert Ayler, Coltrane e Ornette Coleman. Muitos dos discos listados por Moore nunca foram lançados em CD (!!) e outros tiveram pequenas prensagens, difíceis de serem encontradas hoje. Há tanto os discos mais ruidosos e barulhentos (como Duo Exchange, Nipples e Alabama Feeling) como os menos agressivos, mas sempre bem experimentais (caso de Nommo, Afrodisiaca e In Paris). Não reproduzirei os comentários de Moore, um pouco extensos… Quem quiser ver o que o guitarrista falou sobre cada disco, basta ir em www.saucerlike.com e procurar em “articles”.
1. DAVE BURRELL – “Echo”: gravado em 69, o disco traz o pianista Burrel acompanhado do “who’s who” da cena free em Paris no momento: Arthur Jones, Alan Silva, Sunny Murray, Archie Shepp. Duas extensas faixas de pouco mais de 20 minutos.
2. MILFORD GRAVES & DON PULLEN – “Nommo”: registro de apresentação ao vivo de 67, traz um longo diálogo entre a percussão de Milford e o piano de Pullen.
3. ARTHUR DOYLE Plus 4 – “Alabama Feeling”: um das melhores “dicas” de Moore. O esquecido saxofonista Arthur Doyle aparece aqui em um disco infernal, que capta seu quinteto em ação em 77, no The Brook, um dos muitos lofts onde rolava a cena free naquela década.
4. SONNY MURRAY – “Sonny’s Time Now”: um dos primeiros bateristas totalmente free, Murray gravou esse disco em 65, ao lado de seu antigo parceiro Albert Ayler.
5. THE RIC COLBECK QUARTET – “The Sun Is Coming Up”: o trompetista Colbeck é muito lembrado por suas gravações ao lado de Noah Howard. Como líder, vem acompanhado nesse disco de 70 de músicos europeus, como o baixista ‘J.F.‘ Jenny-Clark e o saxofonista Mike Osborne.
6. JOHN TCHICAI AND CADENTIA NOVA DANICA – “Afrodisiaca”: o mais exótico álbum da lista. Tchicai nasceu na Dinamarca e participou da clássica sessão de “Ascension”, de Coltrane. Big band com 26 músicos. 1969.
7. RASHIED ALI and FRANK LOWE – “Duo Exchange”: um dos maiores bateristas em atividade, Ali prolonga nessa gravação de 72, ao lado do sax de Lowe, as experiências iniciadas em “Interstellar Space”. Obrigatório.
8. PETER BROTZMANN – “Nipples”: terceiro disco de Brotzmann. Um dos melhores álbuns da primeira década do free; saiu em 69. Evan Parker, Derek Bailey e Han Bennink ainda jovens. Editado em cd.
9. THE MARZETTE WATTS ENSEMBLE : o saxofonista norte-americano, morto em 98, gravou pouco e passou temporadas distante da música. Gravação de 68. Segundo Moore: very hardcore.
10. MARION BROWN – “In Sommerhausen”: Marion pertence aos novatos “adotados” por Trane em meados de 60, como Archie Shepp e Pharoah Sanders. Live in Germany, maio de 69.
11. BLACK ARTISTS GROUP – “In Paris”: coletivo de artistas ligados a música, teatro e poesia, o BAG teve seu pico criativo entre 67 e 73. Altamente recomendado aos admiradores do The Art Ensemble of Chicago.
12. FRANK WRIGHT QUARTET – “Uhuru Na Umoja”: mais um gênio que não recebeu o devido crédito. O saxofonista Frank Wright, morto em 90, foi um dos mais importantes nomes do jazz; autor de clássicos indiscutíveis, como Church number Nine.
13. DR UMEZU – “Seikatsu Kojyo Iinkai” – o free tem no Japão não apenas uma terra de admiradores, mas também de instrumentistas de peso. O saxofonista Kazutoki Umezu, menos conhecido do que seu conterrâneo e contemporâneo Kaoru Abe, aparece aqui em gravação de 75.
14. CECIL TAYLOR – “Indent”: um dos criadores do gênero, na virada dos 50 para os 60. Cecil ainda está vivo e criativo. Disco de 77, solo.