Os Heróis e o Método: da alegoria musical à resistência da nossa sanidade

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Sparks – Propaganda (1974, Island)
Qual desvario Monty Pythiano, onde os Queen correriam campo de batalha fora vestidos de vegetais, os Sparks têm neste disco um excelente exercício de pop-rock de proporções épicas, cheio de glamour e humor. Uma mistura entre a silliness de uns They Might Be Giants e as cavalgadas cheias de power dos já referidos Queen (com direito a falsete e tudo). Propaganda é uma bomba de criatividade e um aglomerado de estilos capaz de nos deixar bem consolados.

 

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Dizzy Reece – Star Bright (1959, Blue Note)
Este disco do trumpetista jamaicano Dizzy Reece traz várias surpresas, uma delas tem a ver com o facto de reunir algumas performances que o músico fez, o que permite perceber a espontaneidade e entrosamento que ele tinha com os músicos que o acompanhavam. Se os especialistas chamam isto de Hard bop, a mim chega-me um ritmo cheio de swing, suor em forma de blues, solos/improvisos que não se prolongam em demasia dando espaço à melodia que tudo ameniza. Todos os instrumentos são colocados no tempero certo, permitindo absorver todos os pormenores. Maravilhoso. Ouçam o tema I’ll Close My Eyes

 

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Gnaw Their Tongues – Eschatological Scatology (2012)
Gnaw Their Tongues (nome dado ao projecto pelo multi-instrumentista Mories) revela neste trabalho uma das suas facetas mais cruas.  Disco gravado em 2009 e que torna-se agora disponível através de download. Impiedoso, aqui é recuperado o som rude e sujo dos primórdios do Black Metal (a distorção é completamente abrasiva). Por entre a cacofonia, Mories mostra-se inteligente ao adicionar elementos estranhos mas que facilmente se entranham, o som do violino, tumultos orquestrais, o baixo que faz tremer com o seu peso, a voz que resiste, gritando. Mories mostra as suas origens, de onde vem e deixa a porta aberta para aqueles que ainda se interessam pela resistência do Black Metal old-school.

 

Esta semana vi ainda o documentário sobre a vida do vocalista da banda brasileira Barão Vermelho, o Cazuza. Tenho ouvido o novo dos Sigur Rós, que como sempre, se revela muito lentamente. Rodou o Think Tank dos Blur. Por fim, doses consideráveis de Ty Segall, tanto a solo como em splits, como o deste ano com White Fence.