Os Heróis e o Método: …da música psicadélica ao xamã da distorção
Amon Düül II – Yeti (1970, United Artists Records)
Assim se cozinhou um caldeirão de música progressiva e psicadélica, um disco seminal na definição do movimento Krautrock – muito à custa de ritmos motorik, solos de guitarra e um baixo demolidor e cheio de groove. É quase transcendente ouvir um grupo que criou uma massa sonora complexa, fluída e intrincada como neste Yeti. Claros “influenciadores” de outros mestres em jams psicadélicas, como por exemplo os Acid Mothers Temple… sem dúvida que este foguetão em direcção ao espaço ainda não perdeu combustível.
The Residents – Not Available (1978, Ralph Records)
Por entre os vários recantos da sociedade, sem dúvida que a música é um dos lugares ideais para libertar a loucura que existe por esse mundo fora. Not Available começa com um ritual psicadélico, antes de mergulhar numa versão barata de música para filmes de ficção cientifica. O internamento teria sido melhor? Claro que não, sobretudo porque este disco teve para nunca ser editado, o que só aconteceria alguns anos depois de ter sido gravado e aí teria-se perdido um excelente exemplo de surrealismo musical – onde cabem muitas ideias, da música progressiva à electrónica, à música avant-garde, etc. Se juntássemos os Monty Python e o Frank Zappa a gravarem a banda sonora para um daqueles desenhos animados japoneses cheios de bonecada-on-drugs, acredito que não chegariam tão longe quanto isto.
Hua†a – Atavist Of Mann (2011, Throatruiner Records)
Poupando já nas etiquetas, este trabalho enquadra-se no que podemos chamar de Sludge Psicadélico. Sem ignorar a cartilha Doom, onde o groove do baixo se cruza com o peso da distorção. Eis que os ritmos fortes cedem quando de repente ficamos a planar numa paisagem floydiana (com teclados Hammond à mistura). Uma das coisas mais interessantes e inteligentes em relação a esta banda é a sua capacidade de conter o peso num som cru e eficaz (pensemos naquilo que fazem os OM, Monarch ou Electric Wizard), introduzindo elementos de música psicadélica, vocalizações ritualistas, drones (por vezes em pequenas texturas), sem que fique alienado o Sludge, duro e pesado, que serve de ossada de todo o disco. Um colosso que coloca os Huata numa posição privilegiada face ao que temos ouvido nos últimos tempos dentro do estilo.