Os Heróis e os Métodos #002

O Verão parece ter um efeito alucinogéno nas pessoas, de repente vivemos num país onde tudo acontece, quase tudo é permitido e o mínimo que se exige é bom tempo. Na cidade onde vivo actualmente, Figueira da Foz, que por estes dias é uma espécie de Ibiza, cheguei a ver um camião a passear por toda a cidade com um tigre enfiado numa jaula, como um objecto de orgulho para todos verem, enquanto eram distribuídos papeis para um espectáculo de circo…enfim.

Quanto aos Heróis desta semana:

01. Pärson Sound – Tio Minuter
02. Sunburned Hand Of The Man – Featherweight
03. Troupe Majidi – Essiniya (Nass El Ghiwane)
04. Wolf Eyes – Burn Your House Down
05. Oren Ambarchi – Corkscrew
06. Rezo Glonti – Meeting With Red Botanic
07. Chris Watson – El Divisadero (The Telegraph)
08. Volcano the Bear – Curly Robot
09. Master Musicians of Bukkake – Coincidentia Oppositorum
10. Deathspell Omega – Salowe Vision

Começamos com os Pärson Sound, grupo Sueco que teve uma curta existência, antes de enveredar por outros nomes e roupagens. Entre 1967-68 praticamente só foram notados por terem sido convidados a musicar uma exposição do Warhol. Felizmente para a posteridade ficou um disco homónimo que é um caldeirão de música experimental, com longos temas psicadélicos alimentados pelo groove rítmico do krautrock. No universo dos Pärson Sound há espaço para o jazz, para a rock mais nervoso, num dos mais notáveis exercícios de free-rock que já tive oportunidade de ouvir. Quanto aos Sunburned Hand Of The Man, escrevi recentemente aqui neste site o seguinte: O uso e abuso do reverb atira para as catacumbas do inferno a música dub folk que inicia este concerto. O termo free encontra aqui o seu cantinho para habitar e pelo caminho vai experimentando uma palete de sons alucinatória que tanto lembra Dr. John no disco Gris Gris como os Excepter ou os longos experimentalismos dos Parson Sound. Um ritual que tem muito de físico e tribal, as vozes embrulham-se em efeitos e gritam-nos para nos deixarmos ir com elas, os minutos avançam e os músicos encontram a mesma onda hertziana dos seus cérebros num funk psicadélico delirante. Quanto à música de Troupe Majidi, esta surge na compilação Ecstatic Music of the Jemaa El Fna, lançada pela Sublime Frequencies. O disco reúne gravações feitas no espaço Jemaa El Fna (Rendezvous of the Dead) em plena Marrakech (Marrocos). Os sons são crus, vivos, quase expelidos do corpo, acordando-nos para povos tremendamente ricos e com muito para nos mostrar, nós ocidentais onde muitos têm como religião o poder. O tema de Wolf Eyes é retirado de um dos melhores discos do grupo, Dread (2001). Aqui o som tem algo de provocatório, o noise é servido numa atitude quase punk, onde o grupo se serve de todo o tipo de utensílios sonoros para fazer jus à herança de nomes como Throbbing Gristle ou Whitehouse. De seguida, Oren Ambarchi molda de forma exímia tons de baixa frequência, acrescentando lentamente pontos de luminosidade, sobretudo através da modulação das vibrações da sua guitarra. A música deste Australiano exige muitas vezes que paremos no tempo, que lhe seja dada espaço para que as sub-frequências ocupem o que temos em redor e nos enjaulem os sentidos. Quanto ao Rezo Glonti, o tema encontra-se no seu disco de estreia “The Diary of the Second Officer” (2012), um bom ponto de partida para uma carreira que se espera venha a ter discos ainda mais coesos no exercício de cruzar música ambiental com field recordings. Chris Watson tem aqui a sua passagem retirada do trabalho “El Tren Fastama”(2011), nome real de uma viajem na qual Watson tentou captar os sons mais marcantes e inquietantes, enquanto era feita a travessia pelo Mexico. Um passeio pelos sons maquinais, mas também por outros sons “imaginários”, pelas escuta das pessoas que se cruzam, algumas quem sabe sem destino traçado… Quanto aos Volcano the Bear, um dos grupos de maior longevidade no underground experimental Inglês, trupe de loucos que já tive a oportunidade de ver ao vivo. Cada tema do grupo pode ser o convite descarado para se baralharem estruturas, podendo perfeitamente começar com um trecho folk, passar pelo jazz, dar dois passos pelo cabaret e terminar em ruído. Os Master Musicians of Bukkake são um grupo de alguma estima para o pessoal da Amplificasom – não fosse o trabalho já desenvolvido com os Master, mas também com Earth, Asva ou Secret Chiefs 3, tudo entidades que gravitam na mesma terra sem fronteiras sonoras. O grupo mostrou nos três discos numerados com o nome Totem, que não existem muitos limites no que diz respeito a criar autênticas bandas sonoras que se revelam auspiciosas e próximas do círculo criativo de bandas como as referidas atrás. Para terminar, um nome de destaque do Black Metal dos últimos anos, os Deathspell Omega, essenciais para quem gosta de música mais extrema e tenha abertura de espírito para abraçar passagens de reconfortante intensidade.  Bom fim de semana.

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