Os Heróis e os Métodos #3
Josephine Foster – I’m a Dreamer
Nos início dos anos 80, Loren MazzaCane Connors, antes de enveredar pela música improvisada, andava a explorar a Folk e fez-se acompanhar em vários discos pela voz de Kath Bloom – para muitos uma junção estranha, porque Kath tinha um registo frágil, estridente e quase infantil. Um tom distinto de grandes nomes da Folk rural como Sibylle Baier. Kath cantava e ao mesmo tempo parecia que pedia o abraço das cordas de Loren Connors para não perder o fio à harmonia. Este deu-lhe o melhor em discos como “Restless Faithful Desperate”. Duas décadas depois, Joanna Newsom afirmou-se como uma epifania da Folk, tecendo as suas composições no tear da harpa, com arranjos orquestrais delicados e uma voz que no início estranha-se mas depois entranha-se. A estes dois nomes junta-se o de Josephine Foster, que para além da voz em registo mais “sibilante”, tem editado nos últimos anos discos essenciais no universo da Folk. Em 2001 lançou “Little Life”, na capa a foto de uma criança a fazer uma careta, o que espelha bem a música que se ouve na rodela. Temas curtos, alguns apenas só com um instrumento (banjo, guitarra etc.), e melodias que parecem saídas de um cenário em que a mãe sentada no meio de um castelo de brincar, canta músicas para acalmar/encantar os seus filhos. Quatro anos depois, editou aquele que é visto como o disco mais consensual e para muitos o melhor, “Hazel Eyes, I Will Lead You”, um trabalho mais maduro e introspectivo, homenageando a ruralidade e as tradições da América da qual haveria de partir mais tarde para ir viver para Espanha, onde juntamente com o seu marido abraçou a cultura espanhola e novos sons, registados segundo a caravana sonora de Josephine Foster & The Victor Herrero Band. Em “Hazel Eyes…” ficou assim consolidado um daqueles clássicos que ficará a envelhecer como o melhor dos vinhos para daqui a uns anos ser visto como uma pérola. A história podia ter acabado aqui, mas no ano passado é editado “I’m a Dreamer”, um disco que parece talhado para banda sonora de um cabaré ou encontrado na panóplia de diversidades vaudeville que na sua versão de entretenimento americana reunia desde concertos a cenas burlescas e circos de qualidade duvidosa. A voz de Josephine liberta um perfume de luxúria e vícios, libertando-se numa maior desenvoltura (ou volúpia), caminhando por entre as mesas, bebendo de todos os copos, rindo, caindo e erguendo-se para sossegar uma banda já habituada, não fossem eles músicos de Nashville que sabem como poucos de que pomada é feito a Country, o Blues e a Folk. “I’m a Dreamer” é esquisito mas sedutor, tem músicas que tanto nos fazem rir como nos atiram as palavras mais tristes. O ambiente aqui não muito diferente daquilo que se ouve em discos fumarentos como “Nighthawks at the Diner” do Tom Waits. A entrega em cada um das músicas parece teatral, carregando uma expressividade como nunca se tinha ouvido/sentido por parte da Josephine Foster. Tocam-se as tradições em registo acústico, com um combo reduzido ao essencial mas devidamente virtuoso que parece ter sido gravado ao vivo. Um trabalho que vai dar quase ao mesmo que uma boa taça de vinho tinto.
Para algo completamente diferente mas bastante meritório, tem sido o trabalho de investigação que tem origem no Projeto “Keep it simple, make it fast! Prolegómenos e cenas punk, um caminho para a contemporaneidade portuguesa (1977-2012)” na Faculdade de Letras do Porto, e que tem como objectivo trazer um olhar Sociológico ao movimento Punk em Portugal desde a sua gênese até à atualidade. Relacionada com esta iniciativa, encontra-se acessível para todos a página na Internet Punk com informação relacionada com a cena Punk portuguesa e que terá o espaço de discussão na Conferência “Keep it simple, Make it fast! Underground music scenes and DIY cultures” – que se encontra agora em fase de recepção de resumos. Espera-se com isto tudo que hajam mais iniciativas de investigação sobre os diferentes movimentos feitos de música e muito mais.