Os Heróis e os Métodos #4
Holden – The Inheritors (2013, Border Community)
James Holden conseguiu em “The Inheritors” uma mistura desafiante de música electro-acústica. Por um lado ouvem-se sons familiares e “palpáveis” ao ouvido como samples de metais, vozes, trechos jazz, o aço das cordas da guitarra, por outro lado, há nesta eletrónica um pulsar exploratório, sons sintetizados que adquirem a sua forma indo muitas vezes para além do controlo de quem os programa. Uma relação homem-máquina-som em que o primeiro assiste muitas vezes à fruição “livre” das máquinas “programadas”. Um espírito que tem sido recuperado através de, por exemplo, sintetizadores modulares, mas já traz uma longa história, em movimentos como a elektronische Musik no início dos anos 50. O músico Actress (Darren J. Cunningham) confessou ser incapaz de reproduzir da mesma forma algumas composições que na sua génese foram fruto do exercício exploratório e esse por si só torna-se refém do espaço e do momento.
Através dos seus “brinquedos” de sintetizadores modulares etc., Holden interage e altera o som por vezes criando paisagens ambientais dignas do planeta Tangerine Dream, como de seguida permite que se atinjam outros limites, sobretudo no que pode ou não ser interpretado como música noise.
Após ter lido algumas críticas, há quem compare este disco à electrónica progressiva de nomes como Cluster, o que faz todo o sentido, assim como faz sentido comparar também ao krautrock em formato electrónica minimal e repetitiva conseguida por Manuel Göttsching no transcendental E2-E4.
Por um lado parece que este disco vai demasiado longe na tentativa de experimentar sons que nem sempre encontram um fio lógico, também é verdade que a constante variância de camadas que são aqui programadas tornam “The Inheritors” um caso de descoberta a longo prazo.
Depois de se ter mostrado mais ativo em 2013, em que aproveitou para lançar uma série de singles, espera-se pelo que virá depois de “The Inheritors”, sobretudo para confirmar Holden como um dos nomes de ponta da eletrónica experimental da atualidade, ao lado de outros como Demdike Stare, Bass Clef, Actress ou Andy Stott.