Os Heróis e os Métodos:…a territorialidade de nós e das nossas criações

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Antibalas – Security (2007, Anti)
Disco ambicioso e épico, pela forma como se ergue nas potencialidades dos cerca de 12 músicos que compõem esta orquestra. Ritmicamente é um trabalho pujante, agarrando em variações que vão do afrobeat aos paladares latinos e também a muito funk. Para além da capa denotar alguma conotação política, é também reflexo da mescla de sons e influências que se encaixam ao longo dos minutos. Sem dúvida que é desafiante ouvir algo tão bem executado sem ser demasiado “jazz” e técnico, acabando por se ganhar um conjunto de ambientes diferentes que nos prendem até ao final do disco. Musicalmente existem algumas parecenças com outros gangs, como os Dap-Kings (ou o parente instrumental próximo, Menahan Street Band), mas sobretudo com a Souljazz Orchestra.

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Sam Cooke – Night Beat (1963, RCA Records)
O Sam Cooke é culpado por muitos jantares românticos que acabaram em pecado, é culpado por uniões e alguma fertilidade. Sam é culpado mas canta de forma açucarada como se quisesse ser perdoado. Sam, assim como Al Green ou Barry White, sabe muito bem que o groove lânguido do jazz e o ritmo do blues se for mexido com a imaculada soul pode perfeitamente resultar em músicas apaixonantes. Ámen.

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Panama! Latin, Funk and Calypso on the Isthmus 1965-75 (2006, Soundway)
Graças à Globalização, muitos dos estilos que dantes eram “territorializados”, acabaram por se replicar em qualquer parte do mundo, mesmo aqueles que tiveram na sua génese intenções políticas, sociais etc. (recordo por exemplo a situacionismo político que “enquadrava” os Laibach). Com a velocidade vertiginosa das tecnologias e da internet, alguma música acabou num “não-lugar”, ou então num lugar que é o de todos nós, que é global (por exemplo alguma electrónica). Há porém quem procure sons que se encontram enraizados em culturas próprias, no hábito dos homens e do seu tempo, de forma a os tornar globais também. Esta colheita da zona do Panamá de música dos anos 60 e 70, tem tanto de tradicional – como a Cumbia e os ritmos da Salsa, assim como deixa ferver o rock e jazz. Uma colheita muito bem conseguida por parte da Soundway.

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Keith Hudson – Flesh of My Skin, Blood of My Blood (1974, Atra)
Uma das coisas interessantes neste disco, é que apesar de ser um trabalho de Reggae/Dub, a forma como foi gravado leva-nos a que encontremos sempre sons e texturas diferentes, como se de uma selva psicadélica se tratasse. Não sei se era do fumo que havia no estúdio, mas sem dúvida que a gravação deste trabalho foi um processo rico e aberto à experimentação (do gospel à música psicadélica). Os efeitos e o groove têm quase um efeito hipnótico, enquanto Keith vai divagando entre as melodias. Os ácidos nunca trataram tão bem numa rodela de vinil.