Os Heróis e os Métodos: …as várias chamas que não se apagam…

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Thee Oh Sees – The Master’s Bedroom is Worth Spending A Night In (Tomlab, 2008)
Bem vindos ao desvario rock n’roll, aqui têm distorção ao bom estilo Garage, delays, “fuzzadas” e outros efeitos que servem para acentuar a costela ruidosa e trazer um certo psicadelismo a esta música. Em “The Master’s…” os Thee Oh Sees pegam no manual escrito por grupos como os Sonics e adicionam-lhe uma estética lo-fi (tipo conseguimos fazer isto com o material que temos na garagem), assim como alguma loucura e experimentalismo sem abalar os cânones do toca-a-acelerar-rockabilly-punk. Apesar do tom humorístico destes personagens, o resultado é música de boa qualidade.

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Demon’s Claws – The Defrosting Of… (In The Red, 2010)
Continuando o desfile da secção de psiquiatria do Rock n’Roll Lo-fi, temos também os Demon’s Claws. A simplicidade é a regra número um (segundo a cartilha dos Ramones), depois temos os delays e outras técnicas ideais para criar efeitos psicadélicos. Por fim o Garage-Punk que tanto tira da prateleira discos de grupos como King Khan, como dos Make-Up. Temos aqui um trabalho que é variado o suficiente para manter a imaginação fértil no que diz respeito a variações possíveis do movimento de ancas.

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Cloud Nothings – Attack on Memory (Carpark Records, 2012)
No que diz respeito a discos de 2012, esta é uma das boas surpresas a registar. Não só pelo som cheio de força, com ajuda do Steve Albini nos pistões, não só também pela influência assumida pelos Wipers durante o tempo de composição deste trabalho. Este disco faz o rock parecer excitante novamente, como quando ouvimos pela primeira vez a energia de bandas como os Hot Snakes, Japandroids etc. Os Cloud Nothings trouxeram para 2012 as nossas boas memórias sobre grupos como os Fugazi, Shellac, Archers of Loaf etc.

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Actress – Hazyville (Werk Discs, 2008)
A par de nomes como Flying Lotus, Mount Kimbie, Kode9, Actress é um dos artistas que está a talhar aquilo que temos de eletrónica mais vanguardista neste momento. Minimal Techno – um certo abstracionismo nos ritmos e tons negros que têm mais a ver com a cena de Berlim do que do Dubstep, mas as fronteiras são ténues. Uma colheita de samples extremamente cirúrgica e temos aqui um trabalho que pulsa as nossas colunas de forma implacável.

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Nara Leão – Dez Anos Depois (Polydor, 1971)
Existe música capaz de nos silenciar as palavras, música capaz de nos fazer esquecer do tempo, dos pensamentos do dia… Para mim um desse estilos é a Bossa Nova – música rica no tom, no ritmo e na palavra – um corpo com formas que tanto podem inspirar tristeza como uma luminosa alegria. A guitarra acústica que deita na cama os movimentos do samba, o dedilhar e as cordas que batem um ritmo suave, único. Para quem quiser uma das coletâneas mais completas para a compreensão deste estilo, recomendo “Bossa Nova and The Rise of Brazilian Music in the 1960s” lançada pela Souljazz, existe também um livro com o mesmo nome, que reúne a história da Bossa Nova e traz também reproduções em tamanho real dos discos de vinil mais relevantes. Nara Leão foi uma das vozes de destaque na interpretação de alguns clássicos conhecidos como “Insensatez”, “Samba de uma Nota Só”, “Corcovado”, Garota de Ipanema”, “Chega de Saudade” etc. Neste disco estão cá quase todas das boas, está cá também a voz doce dela, assim como os tons que foram criados para nos ensinar a gostarmos da vida, de todos os dias, os ótimos e os menos bons…
Boa semana…