Os Heróis e os Métodos:…da austeridade à qual o rock não se verga

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Tim Maia – Descobridor dos Sete Mares (1983, Lança Records)
Durante toda a década de setenta, Tim Maia lançou mais de 10 discos, selando um dos percursos mais geniais de toda a música brasileira. Mais que um Stevie Wonder brasileiro, foram várias as fases e estilos musicais que incorporou nas suas criações. Já na fase final da sua maratona criativa, em plena década de 80 lança este “Descobridor dos Sete Mares”, que abraça o Funk da época, com destaque para os ritmos. Outras das coisas fantásticas no Tim Maia é a sua sensibilidade na construção da componente instrumental, cheia de detalhes, diferentes instrumentos (uma secção de metais forte) e uma fisicalidade que tem muito da música popular brasileira. Para quem não conhece este músico o melhor é começar por “Tim Maia” de 1971 e depois deixar-se perder em todos os discos seguintes. Pura genialidade.

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Various Artists – Persian Underground: Garage Rock, Beat and Psychedelic Sounds From the Iranian 60’s & 70’s Scene (2010, Persianna)
Digam lá que um disco com este nome não desperta logo curiosidade? Apesar da influência do rock americano e europeu, estas músicas têm um exotismo próprio, não apenas por na sua maioria serem cantadas noutra língua, mas pelo próprio som que engloba o psicadelismo e uma certa fantasia de bollywoodesca. Alguns destes temas são quase lo-fi, ouvem-se sintetizadores duvidosos, as guitarras tratam do ritmo garage (ideais para empacotar em compilações “nuggets”) e o resto é um manancial de melodias. Um disco que é uma boa oportunidade de termos em nossas mãos sons que durante muito tempo não tinham ultrapassado as fronteiras do Irão. Música exótica, progressiva, psicadélica que tanto nos revela temas tradicionais que poderiam perfeitamente quebrar a vergonha de qualquer baile casamenteiro, como nos mostra uma versão descomprometida de “Play with Fire” dos Rolling Stones. Em suma, não é um arranjo tão coeso quanto se poderia esperar, há temas melhores que outros, mas o seu sabor a raridade deixa-nos um sorriso mafioso na cara.

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The Men – Immaculada (2011, Deranged Records)
“Immaculada” não é um disco de fácil caracterização, no entanto penso que a sua variedade é o que o torna eficaz. Se por um lado temos longos riffs stoner, logo a seguir podemos ficar pendurados por drones –  ficando a boiar numa espécie de shoegaze à My Bloody Valentine ou a borbulhar num fuzz à Sonic Youth. Sendo que no fim disto tudo, não resta muito espaço até se seguirem explosões hardcore, terminando tudo num fogo de artifício noise. Complicado? Nem por isso, a receita é hardcore/punk mais cru e sujo, onde a raiva agarra-se a um certo lado experimental para aliado de peso. No seu âmago é uma boa e ruidosa homenagem ao NYC hardcore dos anos 90.