Os Heróis e os Métodos: …destes desertos de revoluções…

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Group Bombino – Guitars From Agadez, Vol. 2 (2009, Sublime Frequencies)
Não compreendo as palavras que são ditas, mas sinto-as. Os ritmos e as palmas excitam a vida a dançar, mesmo sabendo que muitas vezes são as feridas da guerra e da pobreza que se escondem nestes cânticos e rituais. As guitarras eléctricas mandam neste trabalho, sempre em rendilhados psicadélicos – autênticos pregadores do deserto que fariam de certeza Jimi Hendrix sorrir. Resuscitados pela atenção dada ao som Tuareg e a bandas como os Tinariwen, é muito bom ter acesso a esta música, sobretudo através do trabalho que tem sido feito nos últimos anos pela editora Sublime Frequencies em trazer até nós autênticas pérolas.

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Total Abuse – Mutt (2010, Post Present Medium)
O que é que dá saúde e faz a barba crescer? Ora nem mais, um bom disco de Hardcore. O nome da banda diz tudo, aliás o abuso chega ao ponto de alguns temas roçarem o Crust com pitadas de Noise. Investidas rápidas com uma sujidade que torna a música dos Total Abuse ainda mais crua. O grupo sabe dosear cada uma das variações com quebras no ritmo, não esquecendo passagens mais melódicas sem se alongarem muito, até porque há ruído que tem que ser feito (há sempre uma réstea de feedback que une cada um dos temas). Algumas referências poderiam ser invocadas como os Saetia, Aussitôt Mort ou os grandes Cripple Bastards.

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Deathprod – Imaginary Songs From Tristan Da Cunha (1996, dBut)
Este trabalho emerge em dissonâncias que se tornam inquietantes e ao mesmo tempo agarram-nos pela tensão e ambientes sonoros criados. Helge Sten é Deathprod e no seu currículo conta-se a passagem por uma das bandas mais singulares da música experimental dos últimos anos, os Supersilent. Um disco minimal e em grande parte desenhado à custa da modulação de sons em vinil, drones, o recurso ao theremin, assim como a captação de sons da natureza e o uso do violino como instrumento que desestabiliza (no bom sentido) mais do que harmoniza. Tristan da Cunha é um vulcão numa ilha remota onde vivem cerca de duas centenas de pessoas, este lado remoto, distante, solitário, quase num traço fantasmagórico é o que incandesce este trabalho.

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Pablo Moses – Revolutionary (1976, Tropical Sound Tracs)
“Revolutionary” é um excelente cartão de visita para o puro Roots Reggae, sendo que Pablo Moses não é músico para se ficar pelas cadências relaxadas do estilo (apesar da sua voz induzir a tal disposição relaxada), adicionando instrumentos e arranjos que tornam cada tema numa expressão e variação própria (temos desde saxofone, sintetizador, sons de flauta etc.). Cada música traz uma mensagem, um sonho revolucionário que alcançado ou não, a verdade é que a banda sonora não poderia ser melhor. Em certos pontos sentimos algumas fugas, sejam solos ou até um cheirinho dub, tudo isto tocado por uma banda de topo, patenteando aqui um dos melhores registos instrumentais do estilo. Na ficha técnica temos ainda o estúdio Black Ark e o senhor Lee “Scratch” Perry a vigiar as vibração.