Os Heróis e os Métodos: …destes sons que nos servem de prisão
This Heat – Deceit (1981, Rough Trade)
Lançado em 1981, ainda hoje “Deceit” revela ser um disco genial e actual. Criado na mesma altura do emergir Pós-punk, os This Heat quebraram alguns limites em relação ao que era conhecido como rock experimental. Político e claustrofóbico, ouvem-se ruídos, sons manipulados, uma inquietação constante ao nível dos ritmos e das vozes. A capa reúne uma série de colagens, que são também uma representação da forma do que podemos encontrar dentro do disco – colagens de diferentes estruturas, ritmos, melodias… Criatividade que revela audácia perante a música jazz ou a música progressiva – sem nunca abandonar o registo directo e cru do rock. Os This Heat tiveram uma vida curta com (praticamente) dois discos de originais, “This Heat” e “Deceit”, ainda assim a sua herança ainda hoje mantém-se recetiva a muitas descobertas.
Scott Walker – Scott 4 (1969, Philips/Fontana)
Existem discos que se vão tornando bons refúgios para diferentes momentos da nossa vida. Cash, Cohen, Waits, Drake, tudo trovadores do tempo, das histórias que nos fazem sorrir e das outras que nos comovem. Vozes maiores às quais cabe ter por perto também o nome de Scott Walker. Walker tem uma voz de crooner, com textura grave e quente. As suas músicas vão dos grandes temas orquestrados, às baladas de copo, cigarro e guitarra acústica por perto. Música que nem sempre encontro palavras para ela, para além da sua intemporalidade. Acredito que toda a gente deveria pelo menos ouvir uma vez na vida este disco.
Earth – Angels of Darkness, Demons of Light II (2012, Southern Lord Records)
Gosto mais da fase pós “Hex; or Printing in the Infernal Method” do que propriamente da fase pré “Hex”, cheia de riffs graves (drones em estado bruto e distorcido) que inspiraram os Sunn 0))). Chegados a este segundo tomo de “Angels of Darkness…” o que resta da criatividade dos Earth? Um som mais despido, blues solitários, um trabalho mais aberto às pausas e silêncios onde são os detalhes que fazem a diferença. Dylan Carlson mantém-se como timoneiro, explorando a sua guitarra cada vez mais melódica e quase me apetece prever que estes Earth ainda irão gravar um disco folk. De destacar ainda o papel de Lori Goldston no violoncelo, encontrando espaços e pormenores desconcertantes, Karl Blau no baixo e Adrienne Davis que se mantém o par ideal para as últimas caminhadas deste grupo, explorando a sua bateria, dançando sobre ela, arriscando pequenas levitações. É conhecido o interesse de Dylan no mundo das coisas místicas e ocultas – cada vez mais a sua música apela à meditação, à introspecção, numa quase religiosidade que não se compreende mas que se sente.
The Congos – Heart of the Congos (1977, Black Ark)
Se tivesse que fazer um top dos meus discos preferidos de Dub/Reggae este estaria certamente nos primeiros lugares. Gravado sob a batuta de Lee Perry, aqui encontramos uma produção rica, cheia de pormenores, efeitos, ritmos e vozes com harmonias geniais. Aliás este é um dos raros discos de longa duração que capta em pleno a criatividade de Lee Perry. Cada música tem a sua própria dimensão e ambiente e todas resultam num clássico de Roots Reggae/Dub. Mesmo para quem não esteja familiarizado com o género, deixem-se perder por aqui…
Depois do maravilhoso fim de tarde partilhado com as divagações/instrospeções de Matana Roberts… tenham uma boa semana.