Os Heróis e os Métodos: …do ritmo dos teus olhos
ASAP Rocky – LiveLoveA$AP (2011, Mixtape)
Este trabalho (ou mixtape) de ASAP, para além de ser um excelente disco de hip hop, reúne samples e ambientes de nomes como Clams Casino (entre outros produtores), assim como rappers convidados (Schoolboy Q etc.). Temas que brilham com o seu groove e emoções próprias. Os instrumentais são negros e lentos, arrastando-nos numa espécie de trip sonora. Por hiphop aqui consideramos uma vertente mais experimental que ficará bem ao lado de nomes como EL-P, Madvillain ou Aesop Rock. Tendo em conta que este é o trabalho de apresentação de ASAP só podemos dizer que o rapaz acertou em cheio.
Lower Dens – Nootropics (2012, Ribbon Music)
Ao segundo trabalho este grupo reencontra-se com a maturidade, gravando um disco dream-rock como já não se fazia há algum tempo. A voz de Jana Hunter e algumas texturas mais lentas e melancólicas poderiam perfeitamente ser encontradas na música dos Beach House. No entanto o grupo vai mais longe, arriscando arranjos mais ricos e variados, fazendo um pouco como a PJ Harvey em “Let England Shake”, onde se ficam a conhecer atracções pelo krautrock e algum psicadelismo. Nootropics encontra o seu universo próprio (mesmo que alguns teclados/sintetizadores lembrem grupos dos anos 80), um universo onde nos encontramos no mesmo tipo de sensações de quando ouvimos discos de grupos como os Mazzy Star. Até ao momento um dos melhores do ano.
Tom Zé – Todos os Olhos (1973, Continental)
Para mim o Tom Zé é um dos melhores compositores de sempre, assim como um nome incontornável da música brasileira. Se por um lado foi capaz de gravar discos repousados na plena beleza da Bossa Nova, como Tom Zé (1970), também foi mais além trazendo o experimentalismo para a música brasileira, com Defeito de Fabricação (1998). Pelo caminho parámos no clássico Todos os Olhos (1973), um trabalho sobretudo acústico (com queda para ruralismos do forró etc.) mas com toda uma panóplia de ritmos e variações melódicas. Aqui as letras ganham destaque, um exercício da palavra que deixa o génio cantar, ou melhor, a sua loucura e humor desenfreado. Um disco que é um labirinto de música popular brasileira, um clássico para acompanhar uma vida inteira e definitivamente Tom Zé não sofre do que ele chama de Complexo de Épico:
“Todo compositor brasileiro
é um complexado.
Por que então esta mania danada,
esta preocupação
de falar tão sério,
de parecer tão sério
de ser tão sério
de sorrir tão sério
de chorar tão sério
de brincar tão sério
de amar tão sério?”
Andy Stott – Passed Me By (2011, Modern Love)
Andy Stott a par de outros nomes como Actress, Scuba, Mount Kimbie, tem encontrado linguagens e lugares próprios dentro da electrónica mais negra e abstracta (as etiquetas vão do dubstep ao future garage). O ponto de ancoragem acaba por ser o techno minimal, onde dançam sombras e micro ritmos. O groove é constante (assim como a repetição), não fosse o dub a presença superior. A música de Andy vai ainda mais além, esticando drones e outros ruídos, colocando samples cirúrgicos ao lado de batidas que são autênticos rituais, tudo numa música que tem uma vibração irresistível.