Os Heróis e os Métodos – Wolves in the Throne Room
Wolves In The Throne Room – BBC Session 2011 Anno Domini (Southern Lord, 2013)
Enquanto dou os retoques finais neste texto sobre uma banda de Black Metal, vou ouvindo o samba de Bezerra da Silva. Estranho? Sim, no fundo é uma espécie de patologia Peeliana. Descoberta e imortalizada pelo John Peel, o mentor, o desbravador de fronteiras sonoras, basta olhar para a listade bandas que gravaram nas suas famosas Sessions.
Fazendo justiça a este espírito, os Wolves in The Throne Room gravaram dois longos temas nos estúdios Maida Vale da BBC. Estranho? Nem por isso, o Black Metal ocupa hoje um lugar de destaque, muito à custa do sucesso de bandas como os Deafheaven, que gravaram um dos melhores discos de sempre do género, mas aos quais também não é de todo alheia uma estética que de certa forma roupe com alguns dos cânones mais “polémicos” que sempre caraterizaram o lado extremo do Black Metal.
Os Wolves in The Throne Room (WITTR) apanharam a vaga mais recente deste estilo que continua a mostrar-se desafiante e relevante. Aliás as duas bandas podem muito bem ser vistas como os pontas de lança do Black Metal (americano), sobretudo depois de uma espécie de hiato a que se deixaram ficar nomes como Lurker of Chalice, Bone Awl ou os Xasthur. Aos WITTR e Deafheaven, juntava apenas um meio campo composto pelos franceses Aluk Todolo. Desta forma ficávamos no miolo do terreno com elementos criativos do Black Metal. Criatividade essa que se tem recorrido de fintas e outras habilidades como a música psicadélica, pós-rock, krautrock, música ambiental ou shoegaze (como o pessoal do oculto prefere chamar, blackgaze).
O que alguns destes grupos têm feito, para além de reinventarem um estilo sem romperem totalmente com a sua faceta old-school/true, é dispensarem também a produção com caráter demasiado sujo/caseiro, assim como alguns elementos ideológicos e estéticos, basta olhar para o design da capa do último disco dos Deafheaven. Não é por isto que o Black Metal já não é um estilo capaz de chocar e provocar, antes pelo contrário, trata-se apenas de uma evolução que tem atraído amantes de música pela qualidade da mesma,e não apenas uma fação seguidora de determinados padrões sonoros e estéticos.
Para todos aqueles que já levam alguns anos de Black Metal nos ouvidos – lembro-me vagamente de quando adolescente ouvi pela primeira vez os discos dos Bathory ou Burzum, lembro-me de partilhar com amigos como o Ivan, a devoção por bandas como os Emperor ou Limbonic Art, contrabalançadas por longas sessões de Pink Floyd – não podemos dizer que “no meu tempo é que era!”, basta rodar esta sessão dos WITTR para perceber que poucos foram/são capazes de tocar música extrema com tamanha intensidade e profundidade. O que aqui ouvimos é praticamento o mesmo que se leva de um concerto do grupo, já que pouco foi acrescentado em pós-gravação/estúdio. Registou-se portanto a distorção crua e abrasiva, as vozes que gritam os tormentos que também fazem parte das nossas vidas, riffs lentos e repetitivos que se vão edificando/sobrepondo até atingirem contornos épicos, induzindo-nos em algo que quase apetece chamar de belo. Quando começamos a balançar neste baloiço de aço, eis que irrompem ataques ferozes que rapidamente voltam ao mesmo passo forte e arrastado. A música dos WITTR não deixa de homenagear a os ditos old-school, mas abraça novas texturas e assume-se como essencial no que diz respeito ao lado extremo da música contemporânea.