“Os Limites do Controlo”, filme pós-rock.

Independentemente das reacções extremas que continuará a obter, “Os Limites do Controlo”, o novo filme de Jim Jarmusch, é, até ver, uma obra quase insuperável na transposição para cinema da estrutura que conhecemos às músicas de ruminam e incham até estoirar numa avalanche de guitarras e ruído. A banda-sonora ficou bem entregue aos Boris e conta também com a participação dos Earth. Com duas bandas tão capazes de criar dimensões desérticas, Jim Jarmusch ampliou o espaço sonoro de um filme que convida a que cada um o preencha com a sua imaginação.

Até certo ponto, “Os Limites do Controlo” recorda também “Like Herod” dos Mogwai: contém-se repetidamente numa rotina circular até abrir as comportas da narrativa para a entrada de novos personagens e elementos (como o violino e a guitarra). Perto do fim, a execução do “Americano” não poderia ser mais parecida com o clímax de guitarras que se verifica em “Like Herod” antes de esmorecer definitivamente (“Os Limites do Controlo” também termina com a sensação de bomba desarmada).

Não é de agora a proximidade de Jim Jarmusch com os trâmites da música: filmou Neil Young em “Year of the Horse” e costuma recrutar músicos para os principais papéis (Tom Waits e John Lurie em “Down By Law”). Um realizador afeiçoado aos aspectos mais expansivos do rock era o autor certo para conjugá-los numa colossal composição de 116 minutos (só mesmo desafiada pelos duplos álbuns que possam ultrapassar as duas horas). É assim que se fundem linguagens. Grande álbum.