P.A./HARD LOVE
Servindo como desculpa genuína ou não, a austeridade teve um impacto no contexto financeiro deste tipo de instituições obrigando-as a cortes sobretudo na programação musical. Puxo pela cabeça e acho que a última vez que me sentei naquelas confortáveis cadeiras do auditório de Serralves foi numa peça de dança contemporânea de Jérôme Bel. Nem foi a música que me motivou, portanto.
Até ontem. Concertos como o da última noite só podem acontecer neste tipo de espaços. E devem! Com regularidade. Marina Rosenfeld, Okkyung Lee e Warrior Queen no mesmo palco?! Foda-se 🙂
Dei por mim completamente absorvido por aquele cruzamento de mundos, por aquela “colisão estilística”, por todas aquelas composições tão originais e inesperadas que emanam uma beleza desconfortável tão… confortável. Há algum tempo que não me divertia tanto num concerto, focado no mesmo sem a mente a dispersar para outros lados (os da Amplificasom não contam, temos sempre a mente a disparar responsabilidades).
A Okkyung Lee, tímida e discreta entre explorações do seu violoncelo completamente fundamentais neste trio; a Marina, com grande estilo e descontracção no meio dos giradiscos e maquinaria, como cérebro do que se passava em palco; e a Warrior Queen, reputada MC jamaicana (estão a ver The Bug e afins?) a partir tudo de forma explícita e quente, a ter orgasmos (literalmente) em palco e a provocar-nos saudavelmente.
Se perderam a estreia europeia (!), não percam o disco com o mesmo nome.
Grande noite! Volta, Serralves.