Pauleatoriedades: Chillwave

HOLY FUCK ARE THOSE PENGUINS JESUS M.C. CHRIST

Permitam-me desde já antecipar as respostas standard a este artigo, que hoje se incidirá sobre aquilo a que vulgarmente (i.e. a Pitchfork e os outros vão todos atrás) se designa por chillwave:

OMFG SEU HIPSTER DE ***** COMO É QUE É POSSÍVEL GOSTARES DESSA ***** VAI PARA O ******* QUE TE **** OUVE MÚSICA A SÉRIO ******

Pronto, talvez não vá ser bem assim. O mais certo é que a maioria dos leitores da Amplificasom leiam o título e se decidam por nem sequer clicar no link que será inevitavelmente colocado no Facebook ou através do Google Reader. O que neste caso acaba por ser bom, para ambas as partes: eu posso dizer os disparates que me apetecer porque ninguém vai querer ler isto e a malta que – como eu – vem à Amplificasom pelo peso dos artigos (joke intended) ignorará a coluna desta semana enquanto ouve o novo de Mastodon em loop. Ainda não ouvi. É capaz de estar porreiro.

Ah, a chillwave. Aquilo que começou como uma piada no Hipster Runoff tornou-se um género musical de direito. Talvez não tão de direito porque parte de hipsters e todos nós os odiamos, certo? Certo. Mas eu faço aqui a defesa do som electrónico ambiental lo-fi que se tem vindo a ouvir de há três anos para cá: muitas das coisas soam-me bem. Verdadeiramente bem. Tão bem que sinto que tenho de as defender, não é como o tipo que li esta semana no Stereogum a defender Skrillex porque curtiu do concerto (como foi possível, meu Deus). E não defendo só a sonoridade como a sua própria criação; até porque não faria sentido defender a crueza no black metal ou a inaptidão no punk rock e odiar a baixa fidelidade de muitas das produções neste campo – que até têm evoluído. Além disso, acaba por ser a prova viva de que qualquer um pode fazer música sem levantar o rabo da cadeira e os olhos do computador, um verdadeiro grito DIY numa altura em que já ninguém ouve anarcho-punk. Sim, acabo de insinuar que a chillwave é um triunfo contra o capitalismo. Venham daí esses flames, seres invisíveis que não estão de for alguma a ler-me neste momento.

Assim sendo, esta semana opto não por falar sobre um disco, mas por escolher um top 5 das canções que mais curto do género – até porque, lol, já ninguém ouve discos, não há tempo para isso na sociedade de hoje, que se processa tão rapidamente que um gajo já nem tem tempo para acabar uma fr

http://youtu.be/mhT1HxoBFm4

5. Indian Jewelry – Touching the Roof of the Sun

Ali pode dizer psy-rock e os Indian Jewelry podem existir há muito mais tempo do que o género, e uma pessoa que vá ouvir até pode concordar com a definição psicadélica, mas como no meu Winamp está com a tag chillwave, quando saquei o disco em que se encontrava falavam dele como se fosse chillwave, e este vídeo tem um triângulo invertido que os hipsters que gostam de chillwave tanto adoram, eu vou utilizá-lo aqui na posição cinco das malhas chillwave que mais gosto. Ainda que não seja. Mas é. Ainda que não seja. Mas é. Marcelo Rebelo de Sousa gosta disto. Pronto, não é nada. Era só para ver o que vocês diziam. A música é fixe, contudo.

4. Neon Indian – Deadbeat Summer

Lá está, esta já diz respeito ao género. É electrónica, é pop, é meio drogada e fala do verão. Completamente chill! Este disco fez-me muito feliz no verão de 2009, e eu estava honestamente ansioso pelo disco de Neon Indian de 2011, que acabou por ser bom mas não-tão-bom que merecesse a inclusão no top 30 do final do ano. Talvez top 50. Mas, hey, eu fui o gajo que adorou o Fallen e não achou piada ao Belus. (Estão a ver, comunidade do metal? Ainda sou um dos vossos! Não me tratem mal ;_;)

3. Star Slinger – Mornin’

E eis outra que, muito provavelmente, não entra nestas contas. Mas ninguém está a ler, de certeza. Que se lixe. Star Slinger foi uma das minhas surpresas de 2011, tanto a nível dos discos (ouvi repetidas vezes o Volume 1 [eu sei que é de 2010], foi um amor à primeira audição) e dos concertos (um dos melhores do Milhões de Festa na minha modesta opinião, e prometo que é a última vez que falo aqui da “concorrência”). Esta “Mornin'” é uma canção linda para se acordar, como o título há-de indicar. Quase que imagino um bando de passarinhos a vir-me levantar os lençóis para que saia da cama, como uma cena saída da Branca de Neve. Cabrões dos passarinhos. Deixem-me dormir em paz.

2. Washed Hands – Datsun Dream, 1980

Esta é de certeza. Tem a qualidade nostálgica que permeia muita da chillwave, um bom beat e uma melodia bonitinha. É triste que muita gente prefira Washed Out a Washed Hands, mas é assim que o mundo do hype funciona. Não há nada a fazer. Eu prefiro ter sempre as mãos lavadas, especialmente quando estou ao computador. Tenho-me esforçado por não sujar ainda mais o teclado do que o que aquilo que já está. Mas é difícil ver pornografia e teclar com ambas. Foi a piada seca e javarda do dia. Muito obrigado.

http://youtu.be/b5iufN2WIzg

1. Boards of Canada – Spectrum

Agora é que a fiz bonita; com isto ofendo não só a facção do riff, porque os irmãos escoceses são uma das poucas bandas de electrónica de que costumam gostar (falo do que conheço), como os amantes da electrónica que considerarão um insulto chamar chillwave aos Boards of Canada. A cena é: estes tipos criaram as bases para a porcaria que é BNM na Pitchfork. Lidem com isso. Ouçam esta “Spectrum” – malha mais underground e que escolhi propositadamente para manter o cred – e mostrem-me que é sobejamente diferente daquilo que hoje existe. Vá lá. Desafio-vos. Entretanto vou dormir uma semana. Volto na próxima quarta para falar de brostep. Ou não.