Preconceitos e música
Eu sou uma pessoa irritante, mas também fácil de irritar. Uma das coisas que mais me irrita – e que mais me diverte desconstruir – são preconceitos, principalmente para justificar o mau. Sei por experiência que ouvir, à partida, algo com um destes meninos na cabeça resulta, por norma, numa bela figura de urso, mais ou menos do mesmo género daquela que faço sempre que ouço Ariel Pink.
O que faço em baixo é um exercício que já repeti algumas vezes, e carrego mesmo num botão já gasto. Mas há uma quantas ideias que me chateiam imenso e que servem de desculpa para o pior, ou, por outro lado, são um indicador de preguiça enorme. Vejamos:
1- O verdadeiro clássico dos preconceitos: Os Keane (ou os Muse, já que andam tão badalados) são só três. A minha avó também faz tudo a solo na cozinha e não é por isso que é melhor que o Gordon Ramsey e que a sua equipa de chefs qualificados a confecionar alimentos. Esta afirmação é tão pecaminosa que deve ser excedida por uma ainda mais aberrante: até gostava de pôr estes três ao lado dos Zu, tendo em conta o que vi no Milhões de Festa.
2- Um que também apanhei nos ares do Milhões a propósito do concerto de Æthenor: A música não atingiu nenhum clímax. O post-rock foi uma maravilha, mas deixou-nos preguiçosos e mal habituados. A música não tem de ser sempre um crescendo e, por vezes, ser-se bom é saber-se ser anti-climático, ou até fazer dissonâncias e por aí fora. Para mim, o concerto de Æthenor foi, sem sombra de dúvida, um dos melhores de todos os que vi em Barcelos. Porventura, tinha a vantagem de saber, desde o início, que o propósito maior da banda era o improviso puro, a desconstrução completa da música. No entanto, garanto-vos que não estava a jogar nem perto de casa.
3- Outro de ressaca do MdF, só para não destoar: As Vivian Girls são tão fofinhas. Se isto servisse de desculpa para o que de mau se faz por aí, o meu cão poderia muito bem ser vocalista de uma banda de blues (não que os Pink Floyd já não tenham pensado nisso).
Há ainda o grande “para queima não está mau”, do qual já falei imensamente noutras paragens, e o não menos fantástico “tocar bem é tocar depressa”. Mas ficam para outra altura.