Quem tem medo de Peter Brötzmann?
Como Peter Brötzmann protagoniza uma trajetória ininterrupta de mais de quatro décadas e meia de criação musical, com inúmeros projetos e muitas dezenas de álbuns editados, não soa forçado montar um Top 10 enfocando sua obra. É claro que tal listagem é apenas uma impressão de seu autor (no caso, eu mesmo) sobre o trabalho do músico. Salvo alguns clássicos indiscutíveis, tal amostra tende a ser bastante distinta caso outro ouvinte deseje fazer o mesmo exercício (alguém se habilita a deixar sua lista nos comentários?). Os dez álbuns selecionados procuram abranger as diferentes décadas de produção artística de Brötzmann; inevitavelmente, peças de grande vitalidade ficaram de fora. De qualquer forma, para quem ainda não pôde mergulhar a fundo na obra do saxofonista, ficam essas dicas de paradas obrigatórias em sua vasta discografia.
Àqueles que desejem ter uma ideia mais ampla e precisa da discografia de Brötzmann, uma boa recomendação é o levantamento do site European Free Improvisation Pages, que separa por projetos e parcerias dezenas de discos que o instrumentista assinou. Também no site do próprio Brötzmann é possível ter um panorama completo dos discos que editou, tudo bem organizado e separado por datas. A minoria de ouvintes que ainda tem o hábito saudável de adquirir discos tem sido presenteada recentemente com reedições de diferentes títulos fundamentais de Brötzmann que passaram anos fora de catálogo. Claro que ainda há exemplares esquecidos de sua discografia, mas os últimos anos têm sido bastante interessantes no quesito relançamentos, tanto em vinil quanto em CD.
Enfim, esta é a lista do Free Form, Free Jazz de registros fundamentais e basilares do músico alemão, em ordem cronológica de gravação.
1. Machine Gun (1968)
Clássico absoluto, disco obrigatório em qualquer coleção mínima de free music. Octeto formado por jovens europeus que depois se tornariam referência nessa seara. Com este álbum, o nome de Brötzmann estava definitivamente fincado na história, mesmo que ele tivesse abandonado a música.
2. Nipples (1969)
Com uma formação mais enxuta, mostra que o músico estava longe de ter esgotado suas ideias em uma tacada só. Traz o que talvez seja o melhor solo de Brötzmann, na faixa título. Quarteto e sexteto (em um de seus poucos encontros com Derek Bailey). Detalhe: o álbum foi produzido por Manfred Eicher, no período em que gestava seu clássico selo ECM.
3. Outspan n.2 (1974)
Gravação de uma época em que o saxofonista trabalhou amplamente com Han Bennink. O pianista Fred Van Hove completa o grupo, que mostra uma visada mais irônica e aberta, deixando certa crua dureza inicial de lado.
4. Köln /Last Exit (1986)
Um dos fortes registros do grupo mais rocker que Brötzmann participou. Intensidade no limite, com o quarteto apto a participar de qualquer festival de rock mais pesado. Sharrock e Jackson, guitarra e bateria incendiárias.
5. Réservé (1988)
Encontro inspiradíssmo com a bateria de Sommer e o baixo de Phillips. Momentos de energy music alternados com tempos mais dilatados, nos quais a percussão de Sommer assume papel basilar. Brötz em mais um feliz encontro em trio, um dos formatos que melhor explorou.
6. Little Birds Have Fast Hearts (1997)
Um dos fantásticos capítulos do Die Like a Dog, quarteto-chave na free music da década de 90. Kondo e Brötzmann deveriam ter assinado mais parcerias. A dupla dialogava brilhantemente como poucos. Com a adição de Parker e Drake, tudo parecia genialmente fácil.
7. The Chicago Octet/Tentet (1997)
Provavelmente o projeto mais longevo do saxofonista, aqui em álbum triplo que retrata seus tempos iniciais, também com uma germinal formação de octeto. Seleção de mestres contemporâneos (Vandermark, Gustafsson, McPhee, Drake) em sessões polifônicas irretocáveis.
8. Never Too Late But Always Too Early (2001)
Trio com os geniais William Parker e Hamid Drake. Disco duplo no qual cada um dos integrantes têm espaço para demonstrar, solo ou em conjunto, tudo que podem. Duas horas de música para se ouvir sem pausa, sempre com encanto.
9. Nothung (2001)
Encontro com a bateria encorpadíssima de Wertmüller, com quem montaria mais à frente o Full Blast. Parker, uma vez mais, brilhante no baixo. Soa como um pré-Full Blast, só que com baixo acústico.
10. The Fat is Gone (2006)
Brötzmann e Gustafsson proporcionam, amparados por Nilssen-Love, uma das sequências mais explosivas da história. Mesmo se o disco fosse um single, restrito ao primeiro intensíssimo tema, teria seu lugar cativo como um dos destaques da última década. Testemunho da vitalidade do som atual de Brötzmann, já com 65 anos na época do registro.