Quem tem medo de Peter Brötzmann?
Peter Brötzmann Octet (68); Clarinet Project (84); Last Exit (86-90); Die Like a Dog (93-99); Chicago Tentet (97); Sonore (2003); Full Blast (2006); Hairy Bones (2008); The Damage Is Done (2008): projetos vários marcam as mais de quatro décadas em que Peter Brötzmann se mantém em atividade constante. Isso sem falar nas dezenas de discos gravados sem que o grupo carregasse um nome qualquer. A multiplicidade de enfoques, resultados e buscas faz da obra de Brötzmann um dos mais representativos e excitantes painéis artísticos da segunda metade do século XX. Quem conhece apenas uma ou outra de suas faces, deveria se embrenhar pelas veredas ainda não percorridas, tendo a possibilidade de desvendar vastos processos de expressão sonora máxima.
Sempre aberto a novas parcerias, Brötzmann se juntou ao baterista Paal Nilssen-Love e ao celista Fred Lonberg-Holm para uma noite de improvisação livre no Cafe ADA, em abril de 2011, na cidade alemã de Wuppertal. O que era para ser um encontro de uma noite acabou por gerar mais um projeto: o ADA Trio. O primeiro concerto apareceu em disco independente; neste ano, os três voltaram a se runir, tocando em locais como o russo DOM e o britânico Cafe OTO, que tem sido atualmente palco cativo de muitos músicos da free music.
O ADA Trio é um incrível conjunto que ganha peculiar sonoridade com a atuação de Lonberg-Holm, um dos poucos celistas em atividade na free music, que lida também com eletrônicos/pedais para ampliar os sons que tira de cordas e arco. O baterista, Nilssen-Love, é um dos nomes fortes das baquetas contemporâneas, sendo figura de grande inventividade e potência, já tendo gravado em outras oportunidades, até em duo, com o saxofonista alemão. O encontro dos três gera febris improvisações, com pontos mais reflexivos (atenção às passagens solistas de Lonberg-Holm) e certa fúria lírica.
Em fevereiro passado, o trio esteve no Cafe Oto e recebeu convidados especiais em cada noite. No dia 20, foi o percussionista Steve Noble; no dia 19, o pianista Pat Thomas. É desse encontro do dia 19 que vem um bootleg que tem circulado por aí, exemplar de qualidade razoavelmente boa que apresenta o trio em mais de 80 minutos de intensa performance.
*Peter Brötzmann: saxes, clarinet, tarogato
*Fred Lonberg-Holm: cello
*Paal Nilssen-Love: drums
*Pat Thomas: piano (special guest)